Em fevereiro de 2016, escrevi sobre o peso que recaía sobre mães pobres que haviam sido infectadas com o Zika vírus durante a gravidez e geraram bebês com microcefalia e anomalias cerebrais gravíssimas.
(G1, 18/11/2016 – acesse no site de origem)
E como reagiram a sociedade e o Estado brasileiro no sentido de amparar esses bebês e suas jovens mães? A chefe da equipe pioneira na pesquisa científica sobre a relação do vírus com a malformação dos bebês, dra. Adriana Melo, responde que quase nenhuma providência foi tomada. “Quase nada”. Em entrevista ao jornal O Globo de 16 de novembro último, a dra. Adriana diz simplesmente a verdade – “ A maioria dos bebês permanece sem amparo”. Sua entrevista é desoladora: muitas dessas crianças vão morrer em completo desamparo, em abandono, não das mães, em hipótese alguma, mas do Estado e da sociedade brasileira. A médica descreve o quadro tenebroso no qual vivem as crianças e suas famílias sem a assistência necessária.
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Dra. Adriana Melo dirige um serviço pioneiro de apoio aos bebês afetados pelo vírus e tem esperança porque, mesmo com a proliferação dos mosquitos, as mães se protegem de uma forma ou de outra. Mas é preciso agir com a máxima urgência pois começam a nascer os bebês infectados no verão passado e embora existam caminhos árduos, é preciso trilhá-los para que a vida desses bebês seja uma pouco melhor. São cuidados complexos, mas é possível amenizar o sofrimento das crianças e suas mães.
O que faz com que o País seja tão cruel com essas crianças e suas famílias? Os bebês portadores de graves comprometimentos estão em torno de dois ou três mil. Portanto, mesmo contando com a subnotificação, é um número administrável. Por que os ânimos se inflamam a ponto de laços familiares serem rompidos e tão poucas vozes bradarem pelo suporte necessário e devido a estas crianças e suas mães?
Dra. Adriana Melo se revolta e afirma categoricamente que há uma dívida social não paga às mães, vítimas de uma doença que poderia ter sido evitada, e a seus filhos que sofrem sem a reabilitação necessária. A maioria das crianças tratadas em seu centro, por exemplo, vem do interior e agora está sem condução porque os prefeitos derrotados na última eleição não fornecem mais o transporte.
O sonho da dra. Adriana é melhorar seu centro de reabilitação no Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim em Campina Grande. Não é um sonho irrealizável. Muitíssimo menos do que os bilhões roubados aos cofres públicos. Ela necessita apenas de R$ 200 mil e mais alguns equipamentos. Quem se habilita a ajudar essa médica a realizar seu sonho? Como fazer para doar, mesmo sendo pouco, para os centros como o da dra. Adriana? O que fazer para obrigar o Estado brasileiro a tomar para si a responsabilidade?
Vai começando o verão e com ele se inicia uma nova onda de bebês infectados pelo Brasil afora.