Médicos não têm respostas para várias questões ligadas à doença e a gestação
(O Globo, 25/10/2016 – Acesse no site de origem)
Yessica Flores está fazendo exames de ultrassom com uma frequência maior do que as grávidas costumam realizar. Ao lado da alegria de acompanhar o crescimento de sua filha na barriga, existe o medo dos possíveis efeitos ocasionados pelo vírus do zika. Yessica se infectou no início da gestação, e os exames de ultrassom e de sangue são o único consolo que os médicos lhe podem oferecer no que parece uma gravidez normal apesar do zika, que pode ocasionar microcefalia e outros problemas congênitos.
Ela e o marido se acostumaram a ouvir dos médicos apenas uma resposta para suas perguntas: “Não sabemos”.
— É muito duro escutar algo assim — afirmou Yessica no Hospital Jackson Memorial, onde é atendida pela está sendo atendida pela Equipe de Resposta ao Zika da Universidade de Miami.
Ela conta que vivencia uma mistura de emoções com a gravidez. O feto parece estar se desenvolvendo normalmente. O zika, no entanto, pode ocasionar defeitos congênitos severos no cérebro do bebê quando a gestante se infecta. A família também deverá enfrentar anos de incertezas depois do nascimento, previsto para fevereiro.
Não existem exames para determinar se o bebê sofrerá de problemas de audição, visão ou de desenvolvimento depois do nascimento. A experiência de Yessica ilustra as lacunas na comprensão dos médicos sobre a forma em que o zika afeta a gravidez, explica a médica obstetra Christine Curry, que acompanha Yessica e é codiretora da Equipe de Resposta ao Zika.
Os médicos não sabem, por exemplo, por que o vírus — que é transmitido principalmente através da picada de mosquito mas também por relação sexual — permanece detectável na corrente sanguínea de uma mujer grávida durante mais tempo que no fluxo sanguíneo de um homem ou de uma mulher que não esteja grávida.
— É duro continuar dizendo ‘não sei’, mas não é algo inusitado com um doença que começou a se destacar há poucos anos — explicou Christine.
Yessica não apresentou sintomas do zika, mas um exame realizado quando ela estava com 16 semanas de gestação no fim de agosto confirmou que tinha sido infectada. Seu marido também fez o teste, que deu negativo.
Ela ainda não sabe como pegou a doença. Yessica vive e trabalha no bairro Wynwood, em Miami, a primeira área na parte continental dos Estados Unidos com mosquitos transmissores do zika. Mas viajou para Honduras no começo do verão e da gravidez.
Até a chegada do verão deste ano, os únicos casos de zika na parte continental dos EUA corresponderam a viagens a regiões com epidemia, principalmente Caribe e América Latina. Dos mais de 4.000 casos registrados até agora nos Estados Unidos, quase 900 foram de mulheres grávidas.
A área de Miami contém a maior quantidade de casos registrados na Flórida, e as autoridades federais de saúde recomendam que todas as mulheres grávidas que estiveram no condado Miami-Dade façam o exame de detecção do zika. Mais de 110 mulheres foram diagnosticadas com zika na Flórida. Segundo a médica Christine Curry, cerca de um terço delas foram atendidas por médicos do Sistema de Saúde da Universidade de Miami no Hospital Jackson Memorial.
Assim como Yessica, muitas ficaram tristes com o diagnóstico de zika antes de decidir aprender mais sobre a forma como poderiam ajudar os bebês, explicou Christine Curry. Yessica Flores ouviu conselhos de outras mulheres grávidas que estão infectadas pelo vírus:
— Em primeiro lugar, tenha fé. Depois, vá ao médico e siga as recomendações.