(Gênero e Número| 17/03/2022 | Por Giulliana Bianconi)
Quando o presidente mais jovem da história do Chile, Gabriel Boric, chegou ao Palácio de la Moneda, em Santiago, após tomar posse, no último dia 11, era horário de rush de uma sexta-feira útil, chilenos saíam do trabalho no centro da cidade e tanto o cercado preparado pela segurança palaciana para ser ocupado pela população quanto as ruas adjacentes estavam tomados. A aglomeração era imensa para ouvir o primeiro discurso do ex-líder estudantil, mas se enxergavam poucas bandeiras de movimentos sociais ou partidos políticos.
A bandeira que dominava ali era mesmo a do Chile, embora não estivessem totalmente ausentes as do partido do presidente – o Convergência Social. Claramente não havia a reivindicação da vitória por um partido ou por um movimento naquela praça. O clima não era esse. Durante o discurso, Boric tampouco destacou siglas ou coalizões com ênfase. Mencionou mais vezes o termo “mulheres” do que qualquer partido. Citou somente uma vez a coalizão da qual faz parte, a Apruebo Dignidad, que tem uma forte base feminista, e fez jus a essa força no seu primeiro pronunciamento: “por acá resuena el clamor feminista y su lucha por la igualdad” (“por aqui ressoam o clamor feminista e sua luta pela igualdade”, em português).
“Estávamos lá, as feministas, as fundadoras do Convergência Social e dos outros partidos que formam a coalizão, mas no país, mesmo com esse resultado das eleições, a gente vem vivendo uma crise de representatividade, uma descrença na política tradicional, e nesse momento as bandeiras não vêm mesmo na frente”, explicou à Gênero e Número Sabrina Aquino, historiadora e líder da comissão de Relações Internacionais do Convergência.
No Chile, diferentemente do que ocorreu no Brasil nas eleições de 2018, a crise de representatividade pendeu nas urnas para a esquerda e para um projeto político que defende uma profunda transformação social, o enfrentamento ao neoliberalismo e às desigualdades. Foi a campanha de Boric que conseguiu canalizar a confiança da maior parte do eleitorado após o turbulento “Estallido Social”, o período de protestos que abalou o Chile em 2019.
“É um governo para a maioria”, afirma a ministra Camila Vallejo, que assumiu a Secretaria Geral do governo. Ela é uma das 14 ministras que formam o ministério majoritariamente feminino – são 24 ministros no total.