Enquanto favoráveis se oferecem para assistir procedimento, detratores imitam clínicas
(Folha de S.Paulo, 27/02/2018 – acesse no site de origem)
Não é só do lado de fora da clínica que mulheres que decidiram pelo aborto em Louisville vêm buscando apoio.
O trauma associado ao término da gravidez agravado pela fúria dos manifestantes fez surgir aqui um movimento de “parteiras do aborto”.
Elas são doulas, como são chamadas as mulheres que tranquilizam futuras mães na hora de dar à luz, que ficam na sala de cirurgia durante a remoção do feto.
“Estamos ali para dar ouvido à pessoa grávida, segurar a mão, ajudar com a respiração, e isso envolve também a perda do bebê”, diz LizTrantanella, fundadora do projeto.
“Mesmo que tenha refletido bastante e esteja confiante no que quer fazer, essa não deixa de ser uma experiência muito traumática.”
O primeiro grupo desse tipo nos EUA surgiu em Nova York, onde leis de aborto são mais flexíveis e a prática não desperta protestos como os de Louisville. Inspirada nele, Trantanella decidiu levar a ideia para a sua cidade num momento em que vários Estados do país tentam limitar a ação dessas clínicas.
Mas enquanto “parteiras do aborto” se espalham pelo país, grupos contra a interrupção da gravidez abrem suas próprias clínicas para convencer quem quer abortar a mudar de ideia.
São espaços que usam linguagem ambígua, dando a entender em suas fachadas que são clínicas de aborto. Do lado de dentro, no entanto, há pilhas e pilhas de panfletos contra a prática, muitos com discursos agressivos e de natureza religiosa.
No prédio ao lado do centro cirúrgico em Louisville, uma delas oferece ultrassons e sessões de terapia de graça para que mulheres ouçam batimentos cardíacos do bebê que abortariam.
Uma dessas mulheres que acabou não seguindo adiante com o aborto, Chelsea Pickett conta que tudo mudou quando fez um ultrassom ali.
“Estava estressada e tendo pensamentos suicidas. Mas aí ouvi o coração do bebê. Lembrei que nunca concordei com a ideia de um aborto em toda a minha vida, que eram os hormônios falando. Quando eu puder, quero estar naquela calçada me manifestando também, ajudando todas essas mulheres a não tomar essa decisão.”