Hospital em Cuiabá suspende parto humanizado e diz a obstetra que gritos das pacientes incomodam

24 de maio, 2016

(Folha de S. Paulo, 25/05/2016) O Hospital São Mateus, em Cuiabá,  suspendeu a partir deste mês a realização de partos humanizados dentro da instituição.  A decisão foi comunicada ao obstetra Victor Rodrigues, especializado em partos humanizados.

O obstetra disse ao Maternar que recebeu uma ligação  marcando uma reunião com a direção do hospital. No encontro, pediram a ele que não internasse mais no hospital suas pacientes de parto humanizado. A justificativa, segundo ele, é que a ouvidoria do hospital recebeu reclamações, pois as grávidas gritavam demais no parto humanizado e incomodavam os demais pacientes da instituição.

Victor assiste a parto humanizado (Foto: Elis Freitas)

Victor assiste a parto humanizado (Foto: Elis Freitas)

“Tem paciente que verbaliza mais, outras menos. Perguntei quantas reclamações tinham recebido e não souberam dizer. Responderam só que era bastante”, disse ele.

Procurado, o hospital informou por mensagem de WhatsApp que “não tem ambiente apropriado para realizar partos humanizados, atualmente praticados no quarto”. Diz ainda que a falta de estrutura coloca em risco a segurança da mãe e do bebê.

“Os partos humanizados exigem todo um ambiente preparado conforme normas do Ministério da Saúde”, informa a mensagem enviada por uma funcionária do departamento de RH (Recursos Humanos).

Sobre a falta de estrutura, Victor afirma que a instituição alegou que não tinha UTI neonatal para internação. “Dos 120 partos que fiz no ano passado, só quatro precisaram de internação. E cesariana é o que mais dá UTI. Daí vieram com a história dos gritos, pois tem cirurgia cardíaca e paciente que teria reclamado do barulho.”

Segundo o hospital, os partos normal e cesariana continuam sendo realizados no centro cirúrgico.

A decisão do São Mateus irritou uma série de pacientes do obstetra, que criaram a hashtag #EuApoioDrVictorRodrigues em solidariedade ao profissional.

Além dos relatos em favor do obstetra, a hashtag também reúne fotos do médico em exercício.

Victor afirma que a mudança atrapalha, pois ele estruturou sua agenda e consultório em torno do hospital. Além de ter um consultório dentro do hospital, ele também mora perto da instituição. “Tenho agenda de paciente, não tenho para onde ir de repente.”

O obstetra diz que outro hospital se dispôs a receber os partos humanizados que aconteceriam no São Mateus.  O problema, segundo ele, é que essa outra instituição é só maternidade e, às vezes, falta leito para o parto humanizado.

Para a obstetra Roxana Knobel, dois pressupostos podem ser utilizados para classificar um parto como humanizado: 1) a mulher é a protagonista, o centro das atenções; 2) toda intervenção é baseada em evidências científicas.

Partindo desses princípios, o parto será conduzido de acordo com a vontade da gestante. “Se ela não quiser usar camisola para parir, não usa. Ela não vai usar camisola só porque é rotina. Se ela quiser parir de pé, tudo bem”, afirma Roxana em entrevista ao Maternar em 2015.

Fabiana Futema

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