Juíza de SC que tentou impedir aborto de criança vítima de estupro recebe pena de censura pelo CNJ

21 de fevereiro, 2025 g1 Por Caroline Borges

Além de tentar convencer menina a continuar com gestação, juíza a manteve em um abrigo, o que tardou procedimento.

A juíza Joana Ribeiro, que tentou impedir uma menina de 11 anos, vítima de estupro, a não realizar um aborto legal em 2022 em Santa Catarina, recebeu pena por censura pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A decisão foi tomada pelo órgão em sessão na terça-feira (18), de forma unânime.

O caso repercutiu nacionalmente em 2022, quando a família da vítima procurou a Justiça para que a criança fizesse um aborto, conforme prevê a lei brasileira. Segundo o CNJ, além de tentar convencer a menina a continuar com a gestação, a juíza manteve ela em um abrigo, o que tardou o procedimento.

Conforme a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, de 1979, o juiz punido com a pena de censura não poderá figurar em lista de promoção por merecimento pelo prazo de um ano, contado da imposição da pena.

A situação foi revelada em reportagem dos sites Portal Catarinas e The Intercept, que narraram trechos da audiência com a menor. Na época, a Justiça e Promotoria pediram para a vítima manter a gestação por mais “uma ou duas semanas”, para aumentar a sobrevida do feto.

“Suportaria ficar mais um pouquinho?”, chegou a questionar Joana em audiência com a vítima.

Na época, a juíza disse que não iria comentar o caso por envolver uma menor de idade a firmou que o caso deveria ser tratada apenas na Justiça. Com a decisão do CNJ, o g1 voltou a procurar a defesa da juíza nesta quarta-feira (19) que afirmou receber com “serenidade a decisão” e que a postura da magistrada foi “orientada pelo dever constitucional de proteção à vida e pela responsabilidade de garantir segurança jurídica em um caso complexo e sensível” (leia a íntegra mais abaixo).

O que disseram as partes em sessão do CNJ
Na sessão de terça-feira, o advogado da juíza, William Medeiros de Quadros, fez uma defesa do caso. Ele alegou não ter havido abuso de poder, disse que o caso teve grande exposição midiática e que a acusação contra a juíza foi injusta e desproporcional.

Já o conselheiro relator Luiz Bandeira de Mello declarou que a magistrada tentou humanizar a situação de gravidez decorrente de estupro e que a condução da audiência revelada pela imprensa chocou.

“Veja bem, a magistrada é estudiosa do assunto, preciso dizer isso, ela tem livros publicados sobre o assunto, ela tem formação na área. Mas, em alguma medida, sim, o que se vê da investigação dos autos, ela deixou que seus valores pessoais prevalecessem sobre o interesse da criança”, reiterou o relator.

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