(Folha de S. Paulo| 22/04/2022 | Por Luis Felipe Miguel)
Bastou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dar uma declaração falando o óbvio sobre o aborto —que é uma questão de saúde pública e não se resolve com repressão— para que se instalasse a celeuma. À direita, a velha campanha que faz do tema um tabu. À esquerda, mesmo muitos que nunca discordam de Lula se atreveram a dizer que o ex-presidente da República tinha cometido um erro e devia voltar atrás.
Para as lideranças políticas e religiosas da direita, interditar qualquer discussão séria sobre o tema permite manter um poder de chantagem sobre a esfera pública, além de uma clientela mobilizada pela manipulação de preconceitos e por falsas informações. À esquerda, poucos dão destaque à questão: impera a covardia e também, em muitos círculos, a percepção, tingida de misoginia, de que é uma questão “menor”, “parcial” ou “identitária”. Enquanto isso, os dados revelam a carga de insegurança e sofrimento que a criminalização do aborto provoca nas mulheres.