(Folha de S. Paulo, 16/01/2015) Os obstetras da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) repudiaram as medidas anunciadas na semana passada pelo Ministério da Saúde para reduzir o número de cesáreas no país.
O anúncio prevê que as operadoras de saúde forneçam às clientes o índice de cesáreas dos obstetras e dos hospitais conveniados.
Os médicos, por sua vez, deverão preencher um relatório com informações gráficas sobre a evolução do parto. Caso a operadora de saúde entenda que a cesárea ocorreu sem necessidade, o médico pode não receber pela realização do procedimento.
Em texto publicado ontem, a entidade afirma que as determinações são “inócuas e escondem os verdadeiros motivos para os altos índices” desse tipo de parto no país.
Segundo Cesar Fernandes, da Sogesp, não é “carimbando” os médicos com suas taxas de cesáreas que o país terá mais partos normais.
“Existe, sim, um número inaceitável de cesáreas, e o médico tem sua parcela de culpa. Mas essas medidas demonizam o médico e a cesárea. Dá a impressão de quem faz cesárea é um criminoso.”
Segundo ele, é importante lembrar que a cesárea é indicada para preservar a saúde do feto e da mãe, e existe o direito da mulher de optar por ela. “Ela tem essa autonomia. Posso colocar argumentos para que ela reflita, mas o desejo dela é legítimo.”
Fernandes afirma ainda que é preciso mexer em questões culturais e estruturais para reduzir as cesáreas.
“Falta educação de médicos e pacientes, faltam equipes completas com anestesista de plantão e enfermeira obstétrica que acompanhem e motivem a gestante, faltam ambientes destinados ao parto normal nos hospitais privados. A mudança não vai ocorrer da noite para o dia.”
Ele toca ainda no ponto da valorização do profissional. “Hoje, poucos residentes de ginecologia e obstetrícia têm interesse em ser obstetras.”
Mariana Versolato e Fabiana Futema
Acesse o PDF: ‘Medidas do governo dão a impressão de que quem faz cesárea é criminoso’, diz médico (Folha de S. Paulo, 16/01/2015)