(Folha de S. Paulo| 27/05/2022 | Por Lúcia Xavier e Lia Manso)
O fim do mês de maio é central na agenda de movimentos feministas e de mulheres negras em todo o mundo. O Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, em 27 de maio, e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, em 28 de maio, levam-nos a perguntar: por que seguimos aceitando a morte de pessoas negras que gestam? Até quando testemunharemos essa brutal expressão do racismo no Brasil, considerando que a mortalidade materna é, em quase sua totalidade, evitável?
A mortalidade materna, especialmente de mulheres negras, é histórica e faz parte de um conjunto de práticas racistas institucionalizadas no sistema de saúde brasileiro. Mesmo com políticas voltadas para a saúde materna, o Brasil não alcançou o patamar mínimo apontado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que é de 20 mortes por 100 mil nascidos vivos.
No contexto da pandemia de Covid-19, a taxa de mortalidade materna no país saltou de 57,9 (2019) para 107,5 (2021) a cada 100 mil nascidos vivos, sendo 61,3% de mulheres negras (Ministério da Saúde). Assim regredimos a índices similares aos dos anos de 1990, num quadro de total violação do direito à saúde sexual e reprodutiva. O horror também se repete localmente. No estado do Rio de Janeiro, a taxa mais que dobrou, saltando de 73,5 em 2019, antes da Covid-19, para 155 a cada 100 mil nascidos vivos em 2021, de acordo com os dados do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade).