(Folha de S. Paulo, 14/02/2015) O desafio da foto de grávida que circula nas redes sociais é criticado por mulheres que defendem a legalização do aborto. A pedagoga Gaabriela Moura, 25, por exemplo, causou polêmica depois de postar uma mensagem defendendo a descriminalização do aborto.
O que talvez tenha chamado atenção seja o fato de Gaabriela estar grávida. “Fui marcada e vi algumas pessoas postando suas fotos gestando, felizes, com as hashtags contra o aborto. Considerei a campanha simplista e um desserviço à luta pela descriminalização. Por isso resolvi postar também minha foto, feliz e realizada, dizendo que aquilo cabia só a mim e que eu não deveria julgar ou culpar qualquer mulher a partir das minhas experiências felizes.”
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Para a psicóloga e doula Gabriela Prado, 31, esse desafio da foto provocou uma confusão entre que era opinião pessoal e escolha de vida com criminalização. “Muitas dessas mulheres que estavam ali dando sua opinião sobre o aborto estavam compartilhando decisões que tomaram em suas vidas. E expor a opinião pessoal é direito de todo cidadão.”
Segundo ela, o fato da campanha contra o aborto usar fotos de mulheres grávidas romantiza a gestação. “Como se fosse uma escolha de puro amor e dedicação. E como se quem optasse pelo aborto fosse um ser cruel. Mas muitas [mulheres] que optam por aborto têm um ou mais filhos, são pessoas como nós, como eu e você.”
“Usar imagens de mulheres para uma manifestação contra o direito da mulher é mais uma forma de estimular a rixa entre as mulheres, apontar que o desejo pela legalização do aborto é algo que apenas uma parcela ‘sem coração’ gostaria”, afirma Gabriela.
O desafio da foto de grávida ganhou as redes sociais depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizer que o projeto que trata da legalização do aborto só iria a votação se fosse “por cima do seu cadáver”.
A frase foi considerada infeliz, já que muitas mulheres morrem em abortos clandestinos. “Discutir o aborto não é pedir a opinião de ninguém, mas debater uma causa de morte de mulheres no nosso país, causa que somos capazes de evitar se tivermos um posicionamento de política pública de saúde”, afirma Gabriela.
Gaabriela cita casos de países que descriminalizaram o aborto sem elevar a ocorrência desse tipo de intervenção, como o Uruguai. “Descriminalizar o aborto é reduzir os gastos do SUS com o atendimento para salvar mulheres que morrendo por intervenções violentas, sem higiene e, sobretudo, romper com as mortes dessas mulheres.”
Apesar da defesa das duas, as fotos de mulheres grávidas continuam ganhando as páginas do Facebook. Na maioria das vezes, as mulheres escolhem hashtags de defesa pela vida para acompanhar a imagem.
Fabiana Futema