Lillah Halla estreia em longas-metragens com ‘Levante’ e relembra período estudando cinema em Cuba: ‘um lugar em que o cinema é visto de forma coletiva e política’
Uma das estreias desta semana nos cinemas brasileiros, “Levante” é um dos filmes nacionais mais premiados internacionalmente nos últimos anos. Estreia em longas-metragens da diretora Lillah Halla, a produção chega às salas após receber prêmios em eventos importantes como a Semana da Crítica do Festival de Cannes (Prêmio da Crítica Internacional — Fipresci), o Festival de Roterdã (Prêmio do Júri Jovem) e o Festival Internacional de Palm Springs (Prêmio de Melhor Filme Ibero-Americano). Sem falar nos prêmios recebidos “em casa”: os troféus Redentor de melhor direção e melhor montagem no Festival do Rio e a vitória nas categorias melhor longa-metragem e melhor atriz no Festival Mix Brasil.
O filme acompanha Sofía (Ayomi Domenica), uma jovem de 17 anos que mora com o pai próximo da fronteira com o Uruguai. Um dia, ela descobre estar grávida, às vésperas de uma importante partida de seu time de vôlei. Sondada para uma bolsa como atleta fora do país que pode representar seu futuro no esporte, ela tenta interromper a gravidez de maneira clandestina e acaba se tornando alvo de um grupo conservador. Na medida em que a violência contra a jovem cresce ao seu redor, ela busca apoio nas colegas de time, na treinadora (Grace Passô) e no pai (Rômulo Braga).
— Em 2015, estive na fronteira do Brasil com o Uruguai com a roteirista María Elena Morán para um outro projeto. E nos deparamos com essa situação muito sui generis. Com o Mercosul, aquela fronteira é de passe livre, um lugar mais de encontro do que de separação, com exceção de um assunto: o aborto — conta a diretora, lembrando a descriminalização do aborto no país vizinho, em 2012, durante o governo de José Mujica. — Foi algo muito alarmante para nós perceber que, com a descriminalização, os números de mortalidade, que eram muito parecidos com os do Brasil, praticamente zeraram. E vimos que a descriminalização era só uma parte de um pacote de justiça reprodutiva.
A questão do aborto
Empenhada na causa da legalização do aborto, a cineasta, de 42 anos, lembra que a procura por abortamentos clandestinos é a quarta maior causa de morte materna no Brasil.
— Não é o aborto que mata, mas o abandono e a perseguição — diz a diretora, que começou a pensar o projeto em 2015, mas viu o cenário político no país influenciar muito no roteiro nos oito anos seguintes. — O Brasil se transformou muito nestes anos, então, de muitas maneiras, esse filme também foi sofrendo mudanças.