(Expresso, 30/01/2016) Documentário sobre a ação judicial imposta por mulheres vítimas de esterilização, sem o seu consentimento, contra médicos do estado da Califórnia estreia dia 1 de fevereiro na PBS. “Na nossa comunidade, normalmente ouvimos histórias das mulheres como vítimas”, sublinha a produtora Virgina Espino. “Estas mulheres lutaram”
Enquanto aguardava na sala de espera do Centro Médico da Universidade da Califórnia – Los Angeles County, em trabalho de parto, Consuelo Hermosillo, uma jovem de 23 anos oriunda do México, foi abordada por uma mulher. “É melhor assinares estes papéis ou o teu bebé vai morrer. Assim que assines, levar-te-ão para dentro.”
Noutra ocasião, outra mulher ouviria da boca de um médico, no mesmo hospital: “Não chores. É melhor que não tenhas mais filhos. No México as pessoas são muito, muito pobres e é melhor que não tenhas mais filhos.” Ao sair do hospital, levava consigo a última criança que poderia conceber.
O caso destas mulheres são apenas mais dois entre muitos. São duas das dez mulheres que em 1975 lançaram uma ação contra os médicos do Centro Médico da Universidade da Califórnia – Los Angeles County, uma das instituições mais poderosas da cidade onde viviam. Não foram vítimas de violação. Não foram alvo de agressão. Mas uma parte do seu corpo foi-lhes retirada: foram submetidas a uma esterilização, sem o seu consentimento ou conhecimento.
O caso ficaria conhecido como Madrigal vs. Quilligan. As mulheres tinham de esperança de, com essa ação em tribunal, conseguirem prevenir que outras mulheres fossem submetidas à mesma experiência. Mas perderiam a ação em tribunal. Quarenta anos depois, um documentário dá uma nova luz a este caso: “No más Bebés”, que estreou em 2015 e será transmitido a 1 de fevereiro na PBS.
“ESTAS MULHERES LUTARAM”
O caso colocou os direitos das mulheres na ordem do dia na comunidade mexicana nos Estados Unidos. Milhares delas, de origem pobre, foram ao longo do século XX e em pelo menos 30 estados norte-americanos, vítimas de esterilização como parte de um programa de controlo de natalidade financiado pelo Governo federal, lê-se no “Los Angeles Times”. O estado da Califórnia reunia um terço desses procedimentos, que incidiam maioritariamente sobre imigrantes de origem latina.
Eram forçadas a assinar documentos, muitas vezes escritos em inglês e em momentos de grande vulnerabilidade, e sem serem devidamente informadas do procedimento a que seriam submetidas: a laqueação das trompas.
“No más bebés” quer levar estas histórias “a audiências maiores e mais latas”, explica a professora e historiadora Virgina Espino ao LA Times que, juntamente com a realizadora Renee Tajima-Peña, foi responsável por este filme. “Na nossa comunidade, normalmente ouvimos histórias das mulheres como vítimas”, afirmou ao jornal “The Guardian”. “Estas mulheres lutaram. Enfrentaram grandes riscos para participarem na ação no tribunal, tornarem as esterilizações públicas e ao confrontar as suas relações tradicionais em privado.”
Consuelo Hermosilo, Maria Figueroa e Maria Hurtado foram algumas das mulheres que lutaram pelos seus direitos, que saíram do (des)conforto do seu anonimato e vieram a público, que desafiaram as suas relações tradicionais. São algumas das que falam, na primeira pessoa, neste documentário.
Acesse no site de origem: “No más bebés”: a história das mulheres esterilizadas contra a sua vontade (Expresso, 30/01/2016)