(O Estado de S. Paulo/Folha de S.Paulo) O jornalista e especialista em pesquisa de opinião José Roberto de Toledo, do Estadão, escreve que “os movimentos de última hora das campanhas a presidente em busca de apoios de lideranças evangélicas têm uma explicação”: Dilma Rousseff (PT) teve queda de 7 pontos porcentuais entre eleitores dessa fé na reta final da campanha e sua rejeição aumentou entre eles. Ao mesmo tempo, a evangélica Marina Silva (PV) e o católico José Serra (PSDB) ganharam votos no eleitorado evangélico.
Na avaliação de Toledo, o principal motivo dessa oscilação foi a polêmica sobre a posição de Dilma em relação à legalização do aborto. “A petista, que havia dito ser pela mudança da lei em 2007, teve de ir a público agora dizer que esse é um tema do Congresso, que é contra a prática e que não tomaria iniciativa de propor nenhuma lei para legalizá-la”, escreve o jornalista.
O PT correu então em busca do apoio de lideranças evangélicas, como Edir Macedo, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, que manifestou-se publicamente em favor da candidatura Dilma.
Segundo Toledo, a movimentação de urgência teria conseguido “estancar a queda da petista entre os evangélicos”.
Fonte: Ibope/Infográfico AE.
O Ibope realizou pesquisa sobre a intenção de voto presidencial por religião declarada dos eleitores. Os gráficos acima mostram as movimentações dos votos católico, evangélico e dos eleitores de outras religiões, agnósticos e ateus em Dilma Rouseff e Marina Silva.
No início de setembro o Ibope captou que “havia algum problema novo na relação de Dilma com os evangélicos: em apenas duas semanas ela perdeu 7 pontos porcentuais nesse segmento. Ao mesmo tempo, as curvas de intenção de voto dos dois principais adversários de Dilma começaram a crescer entre os evangélicos. Em um mês, Serra ganhou 10 pontos porcentuais, saindo de 21% para 31% nesse segmento. Marina ganhou 7 pontos e chegou a 20%, embora tenha recuado depois para 18%”.
Para Toledo, “a polêmica em torno da legalização do aborto pode ter tido um peso maior no refluxo das intenções de voto de Dilma nesta reta final do que as denúncias de corrupção no governo e os ataques de Lula à imprensa”.
Já para o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP, que conduz pesquisa em igrejas evangélicas, a religião nunca foi uma variável importante para o eleitor. Embora concorde que haja uma campanha contra Dilma Rousseff, ele diz que as razões espirituais não são tão importantes. “Existe um discurso quase mitológico que procura demonizar Dilma. Há um medo, a meu ver infundado, de que seu governo venha a restringir os meios de comunicação, que são o oxigênio do crescimento dessas igrejas”, diz Pierucci, para quem é essa “suposta ameaça à existência física das igrejas evangélicas” que explica a movimentação dos pastores. “A radicalização não pode ser compreendida como se fosse apenas a discussão de ideias religiosas contra o aborto e o casamento gay. Existe a fantasia de uma ameaça concreta”, diz o pesquisador à reportagem da Folha.
Acesse essas matérias:
Após polêmica, Dilma caiu entre evangélicos (O Estado de S. Paulo – 02/10/2010)
Petista perde voto entre eleitores evangélicos, segundo o Ibope (Folha de S.Paulo – 02/10/2010)