(Jornal do Comércio) Dos 400 partos de gestantes portadoras de HIV na Capital gaúcha por ano, o bebê é contaminado pelo vírus em 20. A transmissão vertical, ou seja, da mãe para o filho, pode ocorrer durante a gestação, no parto ou pelo aleitamento materno. Do total de casos, 50% são registrados durante o nascimento. Porto Alegre apresenta um dos índices mais elevados do País e, de acordo com o Ministério da Saúde, também ocupa o primeiro lugar em incidência de Aids.
A sífilis congênita também preocupa as autoridades. Em 2012, foram 15,42 casos para cada mil nascidos vivos. Com o objetivo de amenizar o quadro, foi lançado nesta quinta-feira o Comitê de Transmissão Vertical do HIV e Sífilis. Coordenado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o projeto busca, com apoio de instituições médicas, acompanhar e monitorar os casos. A meta é a implantação de políticas públicas para enfrentar o problema.
A enfermeira da SMS responsável pela vigilância epidemiológica das gestantes com HIV e das crianças expostas ao vírus, Lisiane Acosta, credita o cenário, principalmente, à questão econômica e à baixa escolaridade das pacientes. “Também há uma negação (da doença) pelas gestantes portadoras de HIV”, completa. Assim, as futuras mães deixam de comunicar os médicos sobre sua condição de saúde.
Para Lisiane, o comitê servirá como um mecanismo para engajar os profissionais de saúde, ONGs e comunidade em geral. “Precisamos de mais atores para enfrentar esta realidade”, reforça. A enfermeira destaca que a meta é reduzir a zero o número de casos. Para tanto, são necessárias algumas medidas, como a realização de um pré-natal e de um parto adequados.
A representante da SMS frisa que o recém-nascido não pode ser amamentado pela mãe. “Uma portadora de HIV pode, sim, ter filhos. Tomando cuidados, como o uso de medicação especial, a chance de haver contaminação no parto é de 0,1%”, ressalta. Em caso de contaminação, o paciente precisa ter acompanhamento médico ao longo da vida.
Já a sífilis congênita, também transmitida da mãe para o bebê, é considerada de fácil prevenção. O acesso precoce à testagem é essencial ao tratamento. A recomendação é de todas as grávidas passarem pelo procedimento durante o pré-natal.
Jorge Telles, diretor de exercício profissional da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), uma das apoiadoras do comitê, ressalta o fato de que, muitas vezes, a gestante ignora sua condição. “Os bebês nascem e depois ocorre o diagnóstico de doenças congênitas”, lamenta o especialista em medicina fetal. Nesses casos, é mais difícil evitar o contágio.
O ginecologista e obstetra salienta ainda que o papel da Amrigs será o de divulgar o tema entre os médicos gaúchos. A instituição também pretende colaborar para corrigir eventuais falhas no sistema de saúde, apontando em quais segmentos existem tais lapsos.
Acesse o PDF: Capital quer zerar contágio de HIV de mãe para filho (Jornal do Comércio, 09/08/2013)