10/07/2013 – Bill Gates dará prêmio à camisinha “perfeita”

10 de julho, 2013

(Folha de S.Paulo) A maioria dos homens não gosta de usar camisinha. Esse é um obstáculo de saúde pública que levou a Fundação Bill e Melinda Gates a abrir inscrições para um grande desafio: desenvolver “a camisinha da próxima geração, que preserve ou aumente o prazer de modo significativo”.

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O objetivo é enfrentar a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids. A camisinha evita as duas coisas de maneira barata e eficaz. Mas, em todo o mundo, somente 5% dos homens a usam. Enquanto isso, surgem 2,5 milhões de novas infecções por HIV ao ano.

“A diminuição do prazer sexual é geralmente a justificativa dada para não usar a camisinha”, disse Stephen Ward, diretor do programa da Fundação Gates. “Podemos realmente torná-las mais desejáveis?”

Mais de 500 inscrições foram recebidas. O concurso da Gates vai dar aos vencedores US$ 100 mil neste outono e até US$ 1 milhão mais tarde.

Especialistas em camisinhas -alguns dos quais estudam o assunto há anos- têm ideias sobre o que pode dar certo ou não.

“Os homens gostariam, em primeiro lugar, de não sentir que as estão usando”, disse Ron Frezieres, vice-presidente de pesquisa e avaliação do Conselho de Saúde Familiar da Califórnia, que há muito tempo testa camisinhas para a indústria, o governo e organizações sem fins lucrativos. “Em segundo, tem de ser um pouco melhor do que a que eles estão acostumados.”

No mundo em desenvolvimento, as camisinhas levantam outras questões. Em algumas culturas, os homens resistem tanto ao uso do preservativo que as mulheres têm de fazer uma “negociação”. Além disso, as mulheres que portam camisinhas podem ser consideradas prostitutas.

Bidia Deperthes, importante assessora técnica sobre HIV para o Fundo Populacional da ONU, e Franck DeRose, diretor-executivo do Condom Project, instituição beneficente, usam canções e danças sobre o preservativo para tentar fazê-lo parecer agradável, e dão às mulheres maneiras de levar camisinhas discretamente, como recipientes parecidos com caixas de pastilhas para o hálito.

Diante do amplo leque de diferenças pessoais e culturais, o valor do concurso da Fundação Gates poderá estar em encontrar diversos tipos de camisinhas -talvez de novos materiais- que possam ser produzidas de maneira barata para o mundo em desenvolvimento.

Vários fabricantes trabalharam em camisinhas mais atraentes. Algumas, como Pleasure Plus e Twisted Pleasure, desenhadas por um cirurgião indiano, Alla Venkata Krishna Reddy, que um especialista chamou de “o Leonardo da Vinci das camisinhas”, respondem às queixas de atrito e compressão. Elas são espaçosas e inflam.

Outro projeto, o preservativo eZ-On, tratou do problema de colocar a camisinha. Feito de poliuretano, não de látex, o preservativo era frouxo, “montado dentro do que eu chamo de tutu”, disse Frezieres. “Não era direcional, então você podia colocá-lo de qualquer lado.”

Uma inovação malsucedida foi a camisinha Hat [chapéu], que parece uma pequena touca de chuveiro e foi desenhada, segundo Frezieres, “para encaixar só na ponta do pênis” e “oferecer o máximo de sensibilidade”. Porém, “em testes clínicos os casais experimentaram dificuldade para evitar que a camisinha-chapéu saísse do lugar”, disse.

Outra ideia foi a camisinha em spray, que usaria látex líquido para criar um preservativo sob medida para o usuário. “Ótimo conceito”, disse Frezieres. “Mas ficamos pensando em como tirar aquilo depois.”

Um desenho promissor, já disponível em algumas partes do mundo, é o preservativo Pronto 4:Secs, com uma caixa decorada com desenhos que lembram Dick Tracy. A 4:secs, um trocadilho e o tempo que se deve levar para colocá-la, é uma camisinha em um aplicador plástico que parece uma boia salva-vidas. “É realmente bacana”, disse Deperthes, demonstrando como o aplicador se abre para permitir que a camisinha seja colocada com o lado certo para cima.

O concurso da Fundação Gates também recebeu desenhos de camisinhas femininas, mas essas são historicamente ainda menos populares que as masculinas. São muito mais caras e precisam ser posicionadas corretamente para não sair do lugar.

Amy e Max H., testadores de camisinhas que moram em Los Angeles e estão juntos há oito anos, são unânimes em sua antipatia pelo preservativo feminino. Como disse Max, “nós dois achamos a camisinha feminina anti-sexy. Ela realmente não parece fazer muita diferença em termos de sensação, mas visualmente ficamos decepcionados”.

Talvez o produto mais inovador feito nos EUA seja a camisinha Origami, que ainda está em testes clínicos. Seu inventor, Danny Resnic, disse que foi motivado por sua própria experiência quando “uma camisinha de látex arrebentou e eu acabei diagnosticado com HIV”. Anos de experimentos o levaram a criar uma camisinha parecida com uma sanfona, com pregas frouxas para permitir o movimento em seu interior.

Por PAM BELLUCK

Acesse o PDF: Bill Gates dará prêmio à camisinha “perfeita” (Folha de S.Paulo – traduzido do The New York Times, 10/07/2013)

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