(Globo.com) O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, contestou informações divulgadas pela Organização das Nações Unidas segundo as quais 200 mil mulheres morrem anualmente no Brasil por causa de abortos de risco. Ele acredita que pode ter havido confusão com outro dado, já que cerca de 200 mil mulheres se submetem a curetagens por ano no Brasil, procedimento muito utilizado após o processo abortivo.
A ONU cobrou posição do governo brasileiro durante a 51ª sessão do Comitê Para a Eliminação de Discriminação Contra as Mulheres, que ocorreu essa semana em Genebra, quando a perita suíça Patrícia Schulz pediu esclarecimentos ao governo brasileiro, sem poupar críticas. “O que vocês vão fazer com esse problema politico enorme que têm”?
Padilha esteve em Recife para assistir ao desfile do Clube de Máscaras O Galo da Madrugada ao lado do governador Eduardo Campos (PSB). O Ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, também integrou o camarote do governador.
Padilha se disse surpreso com os números divulgados pela ONU:
– Primeiro que desconheço esse número de 200 mil mortes por ano decorrentes de aborto. Vi esse número apenas no jornal, e precisamos de mais detalhes a respeito desses dados. Temos cerca de mil e oitocentos óbitos por mortalidade materna. E todas em idade fértil são investigadas sobre a mortalidade materna. Então, volto a lembrar: o que nós temos são 200 mil procedimentos de curategem no sistema público de saúde e não necessariamente mortes por causa disso – afirmou.
Ele voltou a dizer que as gestantes são alvo de grande preocupação do Ministério da Saúde, que segundo o ministro, não tem medido esforços para dar atendimento completo às gestantes. Reconheceu, no entanto, que as taxas ainda preocupam:
– O Brasil precisa reduzir mais ainda a mortalidade para que possamos alcançar os objetivos do milênio, lembrou, acrescentando que a Rede Cegonha está pronta para dar o atendimento pré-natal.
O ministro lembrou que, apesar das críticas, o governo não vai mudar a legislação sobre o aborto.
– Esse é um governo que asumiu um compromisso, inclusive durante a própria campanha. O compromisso de que não tomaria nenhuma medida para mudar a legislação do aborto no país. Mas nós fazemos um grande esforço para organizar os serviços de saúde, para atender à gestante em qualquer intercorrência clínica que ela tenha ao longo da gravidez, disse.
Acesse em pdf: Ministro da Saúde contesta dados da ONU sobre abortos no Brasil (Globo.com – 19/02/2012)
Leia também: Ministro Padilha, o erro não foi da ONU e sim do Estadão
“Em português claro: O Estadão e ministro Padilha se equivocaram. No caso do jornal, o engano pode ter sido do repórter, mas não é impossível que a falha seja de edição. O repórter apurou e passou os dados corretos, mas a informação foi alterada na redação. Por ano ocorrem no Brasil cerca de 1.800 casos de mortes maternas. Desses, aproximadamente 11,4% se devem a aborto, o que significa 205 óbitos por aborto. Ou seja, 200, em números arredondados. Os 200 mil referem-se ao número de mulheres que buscam hospital por ano devido a aborto. ‘O erro é grotesco mas intrigante. A matéria foi escrita por um jornalista qualificado e traz detalhes, inclusive cita trechos da fala da perita Schulz mas curiosamente se equivoca em relação às mortes por aborto’, observa Sonia Corrêa, pesquisadora da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) e co-coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política. ‘Também me parece inadequado, para não dizer muito descuidado, que o Ministro responda aos dados errados do jornal, sem antes verificar o que de fato teria dito o Comitê. É sobretudo preocupante e grave que use o dado errado para desqualificar o trabalho das expertas da Cedaw.'” – Ministro Padilha, o erro não foi da ONU e sim do Estadão (Viomundo – 22/02/2012)