25/01/2011 – Igreja pede explicações ao Estado, por Ligia Martins de Almeida (OI)

25 de janeiro, 2011

(Observatório da Imprensa)  A jornalista Ligia Martins de Almeida comenta a entrevista de dom João Braz de Avis, ao jornal Folha de S.Paulo, na qual o arcebispo de Brasília cobra uma definição da presidenta Dilma Rousseff:

“Não temos uma ideia clara de quem é Dilma do ponto de vista religioso. Ela precisa explicar melhor as suas convicções religiosas para que o diálogo possa progredir. O que sabemos é que Dilma mostrou flexibilidade com relação a temas importantes para a igreja. Mas também sabemos que políticos fazem isso: durante a campanha, é uma coisa e, na prática, o caminho às vezes é outro. Eu espero que as posições dela se aproximem das posições da igreja. Para isso, precisamos conhecer melhor o que pensa a Dilma presidente em relação a certos temas. Não só o aborto, que teve destaque na disputa eleitoral, mas também quanto ao PNDH-3 [Plano Nacional de Direitos Humanos], que traz posições contundentíssimas para a igreja. Há aspectos muito bonitos com relação à questão social, mas temos aborto, homossexualismo, um monte de coisa que precisamos ver como vai ficar.”

 

A jornalista comenta que, “enquanto o religioso espera para ver como as coisas vão ficar, os jornais poderiam esclarecer que questões como legalização do aborto, união de homossexuais e outros temas tão caros à igreja independem da exclusiva vontade da Presidência da República. Qualquer modificação na lei referente ao aborto ou à união legal de homossexuais, por exemplo, passa por aprovação do Congresso Nacional”.

Ligia Martins de Almeida informa que a entrevista do arcebispo de Brasília acabou repercutindo no jornal O Estado de S. Paulo, que publicou artigo da antropóloga Débora Diniz intitulado “Quem tem medo da laicidade?”:

“De minha parte, não preciso conhecer a fé religiosa de nossa presidente para acreditar na democracia. Ainda diferente de d. João, estou certa de que, se o ex-presidente Lula se apresentou como homem de Estado, a atual presidente poderá ir além: melhor será se somente conhecermos a mulher de Estado. Se a ela for conveniente expor suas crenças privadas em matéria religiosa, que esse seja um fato indiferente à vida democrática. Mas, honestamente, preferiria que Dilma fosse não apenas a primeira mulher presidente, mas principalmente, aquela que atualizasse o dispositivo da laicidade do Estado brasileiro… Não há incompatibilidade moral entre a mulher de fé e a mulher de Estado. Só elegemos a mulher de Estado.”

 

“Cabe à imprensa esclarecer aos leitores que cada um tem seu papel na democracia, noticiando, comentando e, sempre que necessário, destacando que Estado e igreja são coisas diferentes. Se cada um – Estado, igreja e imprensa – fizer a sua parte, a democracia só tem a ganhar.”

Leia o artigo completo: Igreja pede explicações ao Estado, por Ligia Martins de Almeida (Observatório da Imprensa – 25/01/2011)

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