(O Estado de S. Paulo) Ao discursar na abertura do 9º Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, em São Paulo, na noite de segunda-feira, 26, a ministra Eleonora Menicucci fez uma cuidadosa exposição dos programas desenvolvido pelo atual governo em defesa dos direitos das mulheres. Foi aplaudida em mais um momento pelas centenas de mulheres que a ouviam no Memorial da América Latina. Ao terminar, porém, foi surpreendida com os gritos vindos em coro da plateia: “Direito ao nosso corpo/ Legalizar o aborto.”
Eleonora havia acabado de dizer que o governo da presidente Dilma Rousseff “tem como ponto de partida, entrada e chegada a intolerância abaixo de zero contra qualquer tipo de discriminação”. Também afirmara que “estamos procurando fazer o melhor e o máximo para a consolidação de todos os direitos da mulher e a eliminação da violência”.
Para as feministas ali reunidas, porém, isso não é suficiente. Querem que o governo avance mais na questão dos direitos reprodutivos, que estariam sendo travados no País por grupos políticos conservadores e religiosos.
Apesar de surpresa, a ministra não demonstrou descontentamento com a reação. Pouco antes ela havia rememorado sua participação nas lutas feministas, citando a bandeira da descriminalização do aborto.
Houve uma outra cobrança na abertura. A coordenadora mundial do encontro, a brasileira Miriam Nobre, disse à ministra que o governo brasileiro deveria ouvir as mulheres dos países nos quais aumentou a sua presença nos últimos, citando os casos específicos de Moçambique e Haiti. “A presença brasileira está causando um impacto muito grande na vida desses países”, afirmou.
Essa é a primeira vez que a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) realiza seu encontro internacional no Brasil. Segundo os organizadores, são quase 1,6 mil mulheres de todo o mundo que irão debater até sábado temas relacionados à questão feminista.
A Marcha iniciou suas atividades em Quebec, no Canadá, em 1995. Ela se alinha a movimentos sociais de caráter popular, como a Via Campesina, que defende a reforma agrária e também se espalha por vários países. Entre as conferencistas convidadas encontra-se Malalaia Joya. Ela já foi chamada de “a mulher mais corajosa do Afeganistão”, por ter denunciado crimes de guerra cometidos por militares e por suas críticas ao fundamentalismo talibã.