(Mariana Sanches, para Marie Claire) Todos os analistas de eleitorado com quem já conversei concordam. As mulheres são mais pragmáticas do que os homens quando escolhem um candidato à presidência. Elas estão menos preocupadas com questões filosóficas (como a autonomia individual frente ao Estado) do que com os serviços oferecidos pelo governo para melhorar a sua vida e o conforto da sua família. Partindo desse princípio, fico com a impressão de que o Partido Republicano, dos EUA, demitiu todos os seus cientistas-políticos.
Os republicanos têm sistematicamente adotado posições contrárias aos direitos das mulheres. Liberais na economia, eles estão cada vez mais afeitos a regular a vida das esposas, filhas, amigas, enfim, eleitoras. Já falamos aqui no blog da proposta de lei que sugere às mulheres ouvir o coração do bebê momentos antes de proceder o aborto. Mas os republicanos foram ainda mais longe. Ainda no tópico aborto, o governador da Virgínia Bob McDonnell, postulante a vice presidente na chapa republicana, apóia uma proposta de lei que prevê que mulheres que fazem aborto sejam obrigadas a passar por um ultrassom antes do procedimento. Mesmo aquelas cujos fetos são frutos de um estupro. A medida torna o procedimento de abortar mais caro. E mais penoso.
O que é mais barato: dar camisinhas ou construir creches?
Admitamos que o aborto seja um assunto polêmico demais, capaz de dividir opiniões. É possível que os republicanos não tenham um déficit nas urnas por conta dessa posição conservadora. Mas eles parecem realmente estar se esforçando para jogar as mulheres no colo dos democratas. Uma das propostas do pré-candidato à presidência Mitt Romney, o favorito na disputa interna para enfrentar Barack Obama em novembro, é extirpar do orçamento público gastos com planejamento familiar e controle de natalidade. Sandra Fluke, estudante de direito da conceituada Universidade Georgetown, foi taxada de vagabunda pelo líder conservador Rush Limbaugh por pedir que seu plano de saúde arcasse com o custo de seu anticoncepcional. Foi acusada de querer ser paga para fazer sexo. É verdade que a economia americana anda mal das pernas. Mas é preferível poupar em camisinhas e anticoncepcionais ou em escolas, creches, apoio social a mães que pariram crianças indesejadas?
Analistas americanos já dizem que a pálida campanha Obama ganha votos com os movimentos anti-feministas dos republicanos. Os mais otimistas, como Maureen Dowd, colunista do jornal The New York Times, sugerem até mesmo que a secretária de estado Hillary Clinton pode ganhar terreno e, no futuro, disputar a presidência dos Estados Unidos. O raciocínio é simples: se as mulheres americanas acharem que sua emancipação não é um fato garantido e consolidado no século 21, dificilmente confiarão em alguém que não uma mulher para governá-las.