Caso sugere que o risco de propagação do zika pode ser muito maior do que se pensava, e pode levar a recomendações mais rigorosas sobre quem deve praticar sexo protegido
(Folha de S. Paulo, 26/08/2016 – Acesso no site de origem)
As autoridades de saúde dos EUA anunciaram nesta sexta (26) o primeiro caso conhecido de um homem que contraiu o vírus da zika durante uma viagem, não apresentou sintomas e infectou a sua parceira durante uma relação sexual desprotegida.
O caso sugere que o risco de propagação do zika pode ser muito maior do que se pensava, e pode levar a recomendações mais rigorosas sobre quem deve praticar sexo protegido e por quanto tempo depois de viajar para áreas afetadas pelo zika, segundo os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças).
O homem, que vive em Maryland, viajou para a República Dominicana no primeiro semestre deste ano e voltou sem relatar nenhum dos sintomas comuns do zika, como erupção cutânea, dor nas articulações, febre e olhos vermelhos.
Ele teve relações sexuais sem preservativo com sua parceira em duas ocasiões, dez e 14 dias após o seu retorno.
No 16º dia, a mulher apresentou febre e erupção cutânea.
Em junho, as autoridades de saúde de Maryland foram notificadas sobre o caso, e a mulher testou positivo para zika.
Ela afirmou que não teve outros parceiros sexuais nas duas semanas anteriores ao aparecimento da infecção, e que não recebeu transfusões de sangue nem transplantes de órgãos.
O CDC especificou que a paciente não estava grávida.
O homem foi testado 29 dias após seu retorno, e os resultados confirmaram “uma recente e não especificada infecção por flavivírus”, disse o CDC, referindo-se a uma família de vírus que inclui o zika, a dengue e o vírus do Nilo Ocidental.
“O sêmen colhido no 31º dia não tinha vírus zika detectável”, acrescentou.
O zika é transmitido principalmente pela picada do mosquito Aedes aegypti, mas também por contato sexual. Quatro em cada cinco pessoas que contraem o vírus não apresentam sintomas.
A infecção pelo zika é, porém, particularmente perigosa para as mulheres grávidas, visto que o vírus pode causar malformações congênitas em fetos em desenvolvimento, como a microcefalia.
Atualmente, o CDC recomenda aos casais que querem engravidar que esperem pelo menos oito semanas se um dos parceiros tiver viajado para uma zona com transmissão ativa do vírus zika.
Mas agora, as “conclusões deste relatório indicam que pode ser adequado considerar” qualquer pessoa que tiver relações sexuais desprotegidas com uma pessoa que voltou de uma área com transmissão ativa do vírus zika “como exposta ao vírus zika, independentemente do viajante relatar ou não sintomas da infecção”, afirmou o CDC.
Homens que são diagnosticados com zika devem esperar muito mais tempo – pelo menos seis meses – antes de tentar a concepção, disseram autoridades.
E as mulheres que testaram positivo para zika são aconselhadas a esperar pelo menos oito semanas antes de tentar engravidar.
Os pesquisadores sabem de outro caso em que um homem sem sintomas pode ter transmitido sexualmente o vírus zika à sua parceira.
Mas, nesse caso, como ambos tinham viajado para um país afetado pelo zika, não se pode descartar que a mulher tenha sido infectada por uma picada de mosquito.