No Dia da Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e no Caribe, a representante da ONU Mulheres no Brasil afirmou ser necessário ampliar o debate sobre o tema no país, especialmente diante de um cenário em que mais de 50 mil pessoas são estupradas anualmente, a maioria mulheres — vítimas que muitas vezes não sabem que tem, por lei, o direito de abortar.
(ONU Brasil, 28/09/2016 – acesse no site de origem)
A agência da ONU participa da ação virtual #PrecisamosFalarSobreAborto 24h, que reúne coletivos, sites, ONGs, pesquisadoras e pessoas públicas, promovendo transmissões ao vivo sobre o tema pelo Facebook.
No Dia da Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e no Caribe, a representante do escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, afirmou ser necessário ampliar o debate sobre o tema do aborto no país, especialmente diante de um cenário em que mais de 50 mil pessoas são estupradas anualmente, a maioria mulheres — vítimas que muitas vezes não sabem ter, por lei, o direito de abortar.
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“Para a ONU Mulheres, é preciso falar do aborto, porque, no Brasil, 50 mil pessoas são estupradas a cada ano, a maioria mulheres. Levando em consideração que só 10% que são estupradas reportam o crime, o número é muito maior”, disse Nadine nesta quarta-feira (28), durante transmissão pela página da ONU Mulheres no Facebook.
“A lei brasileira é muito clara: uma das três únicas razões pelas quais, por enquanto, o aborto é permitido no Brasil, é o estupro. É muito importante que as mulheres saibam, conheçam seu direito de decidir. Porque, no estupro, elas têm retirado seu direito de decidir sobre quando e como ter relações sexuais e engravidar.”
A ONU Mulheres lançou nesta quarta-feira uma campanha online visando a ampliar e aprofundar o debate. A ação virtual #PrecisamosFalarSobreAborto 24h reúne programação com coletivos, sites, ONGs, pesquisadoras e pessoas públicas, que promovem transmissões ao vivo com declarações de 30 minutos pelo Facebook sobre o tema do aborto.
Em sua transmissão, Nadine lembrou que a maior parte das mulheres estupradas são jovens e negras, enquanto muitos dos crimes são cometidos por pessoas próximas: maridos, pais, irmãos e amigos. “O produto desse estupro, em muitos casos, é a gravidez, que são não apenas não desejadas, não planejadas, como impostas”, declarou.
Nadine lembrou que os provedores de saúde, tanto públicos como privados, precisam providenciar esses serviços, garantindo que sejam de qualidade e humanizados.
“Isso é muito importante porque, em geral, as mulheres, nessa sociedade machista e sexista, sofrem preconceitos”, disse. “Sabemos que nenhuma mulher merece ser estuprada, mas (…) um terço dos pesquisados pelo Datafolha disseram acreditar que as mulheres que se vestem de um jeito, merecem ser estupradas. Isso é preconceito, machismo, sexismo”.
Pesquisa divulgada este mês pelo Datafolha mostrou que, mesmo entre as mulheres, 30% dos brasileiros pesquisados concorda com o raciocínio de que “mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”, culpando a vítima pela violência sexual sofrida.
“Não tem cabimento responsabilizar a pessoa que passou por essa experiência traumática, dizer que ela tem culpa”, disse Nadine. “Temos ainda muito a fazer para garantir os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres em geral. É muito importante discutir como podemos mudar, lutar contra os estereótipos, essa ideia de que os corpos das mulheres podem ser tomados pelos homens, que as mulheres não têm direitos sobre sua vida, sua sexualidade e seu corpo”, concluiu.
Veja abaixo a declaração de Nadine Gasman: