Segundo pesquisadores, diferença de recorrência de tumores entre gestantes e aquelas que não tiveram bebês é mínima
(O Globo, 03/06/2017 – acesse no site de origem)
Muitas mulheres que tiveram câncer de mama costumam renunciar a gravidez por medo de aumentar as chances de que a doença retorne. Mas, agora, um estudo feito com mais de 1.200 pacientes, apresentado neste sábado na Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), em Chicago, revelou que elas podem ser capazes de ter um bebê sem aumentar o risco de manifestar novamente a doença.
“Esses resultados fornecem garantias aos sobreviventes de câncer de mama que ter um bebê após o diagnóstico da doença pode não aumentar as chances do câncer voltar”, afirmou em nome da Asco a pesquisadora Erica Mayer, especialista em câncer de mama.
De todos os sobreviventes de câncer, as mulheres que tiveram a doença na mama são as pacientes com menores probabilidades de ter um bebê após o diagnóstico. Os pesquisadores explicam que grande parte disso se deve ao medo de que a alta produção de hormônios liberados durante a gravidez possam potencializar o crescimento de células cancerosas.
A preocupação é ainda maior em mulheres com receptores de estrogênio, as chamadas RE-positivo, uma vez que a presença desses receptores indica que o tumor pode se proliferar em resposta a esses hormônios.
Mulheres com câncer e RE-positivo tomam medicamentos bloqueadores de estrogênio de cinco a dez anos para neutralizar o crescimento do tumor. Para essas mulheres, a gravidez significaria uma pausa no tratamento.
Das 1.207 mulheres analisadas, que tinham menos de 50 anos, diagnosticadas antes de 2008 com câncer de mama não-metástico, 57% tiveram câncer de mama com RE-positivo. Dessa amostra, 333 mulheres ficaram grávidas. Para cada gestante, outras três mulheres com cânceres semelhantes não engravidaram.
Os cientistas acompanharam essas pacientes – gestantes e não gestantes- durante dez anos e observaram que não houve diferença significativa de recorrência do câncer entre as que tiveram filho e as que decidiram não engravidar.
“Nossos resultados confirma que a gravidez após o câncer de mama não deve ser desencorajada, mesmo para pacientes com RE-positivo”, afirmou o pesquisador Matteo Lambertini do Instituto Jules Bordet, em Bruxelas, que liderou o estudo.
Entre as mulheres com câncer RE-positivo também não houve diferença na sobrevida global. Entre aquelas com RE-negativo, as que engravidaram tiveram 42% menos de chance de morrer que aquelas que não engravidaram. O que sugere ainda que a gravidez pode ser protetora contra o reaparecimento do câncer.
Os pesquisadores afirmam, no entanto, que são necessárias mais pesquisas para analisar quais os efeitos da gravidez em mulheres com presença da proteína HER2 que potencializa o crescimento do tumor, e em mulheres que herdam mutações genéticas nos genes BRCA.