Qual é o impacto de se fazer um bebê nascer antes da hora

30 de novembro, 2016

Não são apenas problemas respiratórios que podem ser decorrentes de nascimentos antes da 39ª semana. Consequências podem se estender para a infância

(Nexo, 30/11/2016 – acesse no site de origem)

Já é consenso na medicina que antecipar o nascimento para antes da 39ª semana de gestação, por cesárea ou indução, gera consequências para a saúde do bebê. Crianças que nascem antes da hora têm mais chances de terem complicações respiratórias e de precisarem de internação e cuidados intensivos.

Não foi à toa que o Conselho Federal de Medicina proibiu, em junho de 2016, que médicos realizem cesáreas antes da 39ª semana por pedido da paciente ou conveniência.

Uma nova pesquisa, porém, mostra que as consequências de um parto planejado podem se estender. Publicada no jornal Pediatrics, ela mostra que bebês nascidos antes da 39ª semana têm maior risco de terem problemas de desenvolvimento na idade escolar.

Isso afeta aqueles nascidos de gravidezes interrompidas com cirurgias cesarianas ou indução de parto. Se o bebê nasceu espontaneamente antes da 39ª semana, o risco de ter prejuízos no desenvolvimento foi consideravelmente menor.

As consequências do nascimento prematuro

Os pesquisadores, da Universidade de Sydney, na Austrália, analisaram dados de 153 mil crianças nascidas entre 2002 e 2007 que haviam passado por uma avaliação que analisou marcadores de desenvolvimento na primeira infância.  Entre esses marcadores, estavam a saúde física, linguagem e cognição, comunicação e maturidade emocional, entre outros.

Os pesquisadores se debruçaram sobre as crianças que tiveram pontuação baixa em dois ou mais desses marcadores. Classificadas como “desenvolvimento de alto risco”, elas correspondiam a 9,6% do universo analisado. O objetivo deles era entender se fatores diretamente ligados ao nascimento impactavam nesses marcadores na idade escolar.

Eles perceberam que as crianças que nasceram antes da hora tinham uma chance consideravelmente maior de ter uma pontuação baixa. Os bebês cujos nascimentos foram planejados na 37ª semana tiveram 26% mais chance de terem problemas de desenvolvimento. Com o avançar da gestação, o risco diminui. Na 38ª semana, essa chance caiu para 13%.

Já se sabia que nascimentos prematuros traziam consequências para o desenvolvimento neurológico e cognitivo. A novidade foi que eles perceberam que o nascimento planejado – isto é, quando a cesariana ou a indução são marcados – pode exacerbar essas consequências.

Vale lembrar, no entanto, que há outras variáveis que aumentam a chance de uma criança ter desenvolvimento comprometido: fatores maternos e socioeconômicos e tamanho em relação a idade gestacional. Mas a idade gestacional e o fato de o parto ter sido planejado mostraram ter uma relação direta com os indicadores na infância. “Atrasar o nascimento pode melhorar o desenvolvimento neurológico”, afirma o estudo.

Certas condições de saúde, como hipertensão ou suspeita de restrição de crescimento, são indicações para a interrupção da gravidez. Mas grande parte desses nascimentos planejados são feitos por razões não clínicas, como pedidos da mãe ou conveniência do médico. Os pesquisadores recomendam que esse tipo de nascimento planejado seja feito só após 39 ou 40 semanas.

Quando nascem os brasileiros

Hoje, no país, 35% dos bebês nascem entre 37 e 38 semanas, segundo a pesquisa Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz, que analisou dados de nascimentos no país e foi publicada em 2014. “A epidemia de nascidos com 37 ou 38 semanas no Brasil é, em parte, explicada pelo número elevado de cesarianas agendadas antes do início do trabalho de parto, especialmente no setor privado”, diz o estudo.

O índice de cesarianas é de 55% e varia conforme o tipo de assistência médica: na rede privada, ele supera 80%.

A resolução do Conselho Federal de Medicina foi uma tentativa de reverter essa estatística. O CFM diz que a cesariana deve ser uma escolha da mãe, claramente identificada no prontuário da paciente, em linguagem clara. E o médico tem a obrigação de explicar à paciente quais são suas opções e a implicação de cada uma delas.

Segundo o CFM, na 39ª semana o feto já está formado e, portanto, o parto por via cirúrgica é seguro.

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