Risco de trombose associado a pílula leva a petição por exame obrigatório

11 de junho, 2015

(Bem Estar, 11/06/2015) Paciente cobra ação de médicos após usar anticoncepcional e ter trombose. Associações médicas dizem que exame não deve se tornar rotina.

Alguns tipos de anticoncepcionais estão relacionados ao aumento do risco de trombose. Esse risco é bastante conhecido pela medicina, por isso a prescrição de um contraceptivo deve levar em conta se a mulher tem outros fatores de risco para a doença. Apesar disso, mulheres que tiveram trombose enquanto usavam pílula relatam não terem sido informadas sobre esse risco por seus médicos.

Danielle Fortuna, de 29 anos, teve trombose aos 18, depois de começar a tomar anticoncepcional: ela criou petição para que médicos solicitem exame para verificar risco da doença antes de receitarem contraceptivo. (Foto: Danielle Fortuna/Arquivo Pessoal)

Danielle Fortuna, de 29 anos, teve trombose aos 18, depois de começar a tomar anticoncepcional: ela criou petição para que médicos solicitem exame para verificar risco da doença antes de receitarem contraceptivo. (Foto: Danielle Fortuna/Arquivo Pessoal)

É o caso da esteticista Danielle Fortuna, de 29 anos, que teve trombose aos 18 anos. Ela criou uma petição online para que os médicos passem a exigir exames para detectar o risco de trombose em todas as mulheres antes de prescreverem um anticoncepcional. Sociedades médicas, porém, alertam que esses testes não devem se tornar rotina, já que são muito caros e não têm a capacidade de prever de forma satisfatória o risco de cada paciente.

A discussão sobre os riscos relacionados aos anticoncepcionais foi até tema de uma audiência pública na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (9).

Trombose aos 18 anos
Danielle começou a tomar anticoncepcional em 2003 depois de uma consulta com a ginecologista. Ela conta que a médica não perguntou se havia histórico de trombose em sua família nem alertou sobre os riscos de desenvolver o problema.

Depois do início dos sintomas – primeiro, pontadas e dores na altura do ovário, na virilha e depois em toda a perna esquerda – demorou duas semanas para a doença ser diagnosticada. Ela ficou uma semana internada e cerca de um ano em repouso para tratamento e recanalização das veias. “Tive que largar a faculdade e todas as minhas atividades ao longo desse ano”, diz.

Passaram-se 11 anos até que ela descobrisse, por meio de um exame, que tem uma mutação genética que afeta a coagulação e predispõe à trombose. Mulheres que têm esse tipo de mutação não devem usar qualquer tipo de contraceptivo. É por isso que, hoje, ela luta para que esse tipo de exame vire rotina nos consultórios dos ginecologistas.  Até esta quarta-feira, mais de 29,6 mil pessoas já tinham apoiado a iniciativa por meio de um abaixo-assinado na internet.

“Meu objetivo é chamar atenção das autoridades pertinentes e, principalmente, alertar o maior número de pessoas pois conhecendo a existência dessa doença, muitos problemas podem ser evitados.”

Entidades médicas são contra exame de rotina

Pílula Interatividade Bem Estar (Foto: Sxc.hu)

Anticoncepcionais aumentam risco de trombose (Foto: Sxc.hu)

Apesar de casos como o de Danielle, associações médicas alertam que esse tipo de exame não deve se tornar rotina. Na semana passada, a Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) emitiu uma nota afirmando que avaliar o histórico familiar e pessoal da paciente, além de outros fatores que possam aumentar o risco de trombose, é melhor do que recomendar o exame para todas as mulheres.

“O fato de o resultado do exame não mostrar alterações não significa que o risco não existe. Isso levaria a uma falsa sensação de segurança. Existem famílias com vários casos de trombose em que os exames de trombofilia não mostram nada”, diz o médico Daniel Dias Ribeiro, coordenador do Comitê de Trombose da ABHH.

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) tem uma posição semelhante. “Cabe ao médico, na consulta inicial, fazer todas as perguntas para avaliar, através da anamnese, os antecedentes pessoais e familiares da paciente, que indiquem possíveis riscos ou contraindicações ao uso de qualquer contraceptivo hormonal que será prescrito”, afirma a entidade, em nota assinada pela médica Marta Franco Finotti, presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Febrasgo.

A entidade oberva ainda que, segundo os Critérios Médicos de Elegibilidade para uso de Métodos Anticoncepcionais da Organização Mundial de Saúde (OMS), exames de rotina para rastreamento de trombofilias não são adequados, por causa da raridade das condições e o alto custo dos exames.

Veja perguntas e respostas sobre anticoncepcionais e trombose:

O uso de anticoncepcionais aumenta o risco de trombose?
Sim. Estudos mostram que mulheres que usam anticoncepcionais orais têm mais risco de ter trombose.

O hematologista Daniel Dias Ribeiro explica que, no sangue, há proteínas que atuam a favor e contra a coagulação. Em uma situação normal, elas devem estar em equilíbrio. Quando há um desequilíbrio, o excesso de proteínas pró-coagulantes podem aumentar o risco da formação de coágulo. Os hormônios presentes nos anticoncepcionais podem provocar esse desequilíbrio.

Segundo a Febrasgo, o aumento do risco do tromboembolismo venoso em usuárias de anticoncepcionais é menor do que aquele associado à gravidez, por exemplo.

O que o médico deve observar antes de prescrever um anticoncepcional?
O médico deve fazer uma anamnese para verificar se a paciente tem um histórico familiar ou pessoal de trombose. Além disso, deve ser avaliado se a mulher tem outros fatores de risco associados à trombose, como tabagismo, sedentarismo, obseidade e hipertensão. Caso a paciente tenha um perfil de risco para uso de anticoncepcional oral, outras alternativas de contracepção podem ser indicadas, como o DIU.

Que exames podem detectar um risco maior para trombose?
Não há um exame único capaz de prever o risco aumentado de trombose. Há sete exames principais que podem ser feitos para identificar a trombofilia, entre os quais exames genéticos, que identificam mutações associadas a esse risco.

Mariana Lenharo

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