(O Globo, 05/11/2014) Tema ignorado nos debates do segundo turno da campanha eleitoral para presidente, a saúde da mulher tem sido assunto obrigatório na imprensa, que contabiliza inúmeras notícias de violência doméstica e mortes decorrentes de abortos feitos em redes clandestinas. Mesmo longe dos palanques políticos, o assunto passou a ser de muita importância em todas as classes sociais, em discussões que abordam ainda a insuficiência da rede de pré-natal, gravidez na adolescência, incidência de câncer de mama, mortalidade por câncer de colo de útero, partos cesáreos e curetagem pós-aborto.
Dados obtidos pelo Rio Como Vamos na base da Secretaria municipal de Saúde, comparando o ano de 2010 com 2013, revelam tanto uma situação complicada, como avanços na área para melhorar esse quadro. Segundo o secretário de Saúde, Daniel Soranz, o município do Rio praticamente não tinha políticas públicas voltadas para a atenção primária (atendimento básico à saúde).
— Isso não se cria de um dia para o outro. Em 2009, a cobertura de saúde da família era de 3,5% e, em 2013, subiu para 47%, englobando 2,8 milhões de moradores. Em 2015, a meta é chegar a 55% e, no ano seguinte, a 70%. Hoje são 72 Clínicas da Família — informa Daniel Soranz. — A melhor forma de combater esse quadro é ampliar cada vez mais o acesso à rede pública, investir na capacitação dos profissionais que atuam na atenção primária e fortalecer as ações de educação voltadas para a saúde.
O número de mães que fizeram menos de sete consultas de pré-natal (total considerado insuficiente) caiu bastante de 2010 para 2011 (de 27.855 para 23.005). Entretanto, de 2011 para 2013, permaneceu estável. O ano passado foi encerrado com 23.455 registros. Já a proporção de mulheres que fizeram sete ou mais consultas de pré-natal subiu de 65%, em 2010, para 71%, em 2013. O não acompanhamento adequado da gravidez pode acarretar mortalidade infantil neonatal precoce ou tardia.
TOTAL DE CESARIANAS CRESCEU
Outra questão importante é o número de cesarianas efetuadas nas redes pública e privada de saúde. Na comparação entre 2010 e 2013, o volume de operações aumentou de 47.223 para 49.877 (correspondendo a 57% do total de partos), depois de permanecer dois anos em torno de 45.500. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o percentual ideal de cesáreas é de 15% do total de partos, sendo tolerável até o patamar de 25%. A OMS destaca que, feito de forma indiscriminada, o parto cirúrgico pode trazer danos à saúde da mãe e do bebê.
A única meta relativa à saúde da mulher no Acordo de Resultados da Prefeitura do Rio refere-se à taxa de mortalidade materna, que inclui óbitos femininos ocorridos até 42 dias após o término da gravidez. A meta para 2014 é de 56,7 por cem mil nascidos vivos. Desde 2009, a Secretaria municipal de Saúde está investigando as mortes após o parto de mulheres em idade fértil, de 14 a 49 anos. O objetivo é esclarecer melhor os óbitos.
Ainda de acordo com o Rio Como Vamos, as internações na rede pública por curetagem pós-aborto de mulheres de 15 a 39 anos também está aumentando. Comparando-se 2010 com 2013, o total saltou de 5.509 para 6.530, um crescimento de 18,5%. Não é à toa que a mídia vem noticiando casos de abortos feitos em redes clandestinas e que, algumas vezes, resultam na morte da mulher.
— Acreditamos que a curetagem pós-aborto esteja subestimada e que esse número seja superior em pelo menos 50% — destacou o secretário municipal de Saúde.
Outra questão que requer cuidado redobrado é o percentual de mães adolescentes (com menos de 20 anos). Comparando-se o ano de 2010 com o de 2013, o indicador permanece praticamente estável em torno de 16% (em números absolutos, passou de 13.398 para 14.325 mulheres). A Secretaria municipal de Saúde tem o Programa de Saúde nas Escolas, em parceria com a Secretaria de Educação. Nele, professores e alunos de colégios na área de cobertura do programa Saúde da Família recebem orientação sobre educação sexual.