(Brasil 247, 02/05/2016) No sábado, as mulheres que participavam de um cine-debate sobre a legalização do aborto na FAPSS – Faculdade Paulista de Serviço Social –viram o evento ser interrompido por soldados da Guarda Metropolitana. Eles informaram que o encontro havia sido “denunciado” e estavam lá para averiguar se não havia nada fora da lei. As mulheres protestaram, afirmando que apenas exerciam o direito à livre expressão e manifestação, assegurado pela Constituição. Os guardas anotaram o nome das organizadoras para colocar num relatório aos superiores. Foi um espanto. Em que democracia estamos vivendo?
– Querem que a gente tenha medo – escreveu Sâmia Bomfim, uma das participantes, em seu perfil no Facebook.
Este episódio é mais uma evidência de que, como já disse o governador Flavio Dino, soltaram o gênio do fascismo da garrafa e agora ele anda por aí, estimulando delatores de qualquer coisa, inclusive de uma inofensiva reunião de mulheres para discutir um tema que causa urticária no bloco conservador que hoje domina a Câmara, o BBB. Boi, Bala e Bíblia. No caso, o subbloco composto pelos deputados evangélicos e seus seguidores.
A seguir o texto postado ontem no Facebook por Sâmia, a participante.
“Vim participar de um cine-debate sobre legalização do aborto aqui na Fapss. A sala está cheia, muita gente interessada. Mas, para minha surpresa, a Guarda Civil entrou na sala porque a atividade fora denunciada. Vieram averiguar se não estamos fora da lei e disseram que vão faz fazer relatório de tudo. Pegam os nomes das organizadoras e palestrantes. É indignante esta criminalização do movimento de mulheres. Querem que a gente tenha medo e que se sinta criminosa em falar sobre nosso próprio corpo e nossos direitos. ”
Comentando o assunto, o site www.opratofeito.com.br completa: “Não é de hoje que os movimentos sociais ou quaisquer movimentos contra essa cultura tradicional brasileira são perseguidos. Isso se deve, em grande parte, à religião dominante no Brasil, que muitas vezes faz com que essa tradicionalidade seja alicerçada no cristianismo, seja qual for a vertente.
De antemão, um Cine-Debate ser denunciado por uma pessoa já nos mostra aonde estamos enfiados, porém a “polícia” (sim, Guarda Civil Metropolitana como polícia entre aspas) aceitar esse pedido e ainda pegar nomes das participantes? Não, isso não é normal. Quem denunciou foi algum fanático cristão, provavelmente. E a polícia, aceitando, fere invariavelmente o estado laico, mais uma vez, “digacê de passage”.
E caso não seja um fanático religioso, só esse tipo de atitude da “polícia” fere, até onde eu sei, a livre expressão. Que livre expressão é essa, onde vocês da extrema-direita acham normal o Messias de vocês fazer uma homenagem ao Coronel Brilhante Ustra, mas acharam exagerado mulheres discutirem o aborto? “.
Relativamente a este tema outros fatos graves têm ocorrido no Brasil. Mulheres que provocam o aborto ou mesmo que o sofrem naturalmente, quando recorrem à rede pública são denunciadas à polícia por enfermeiras ou funcionários (supondo-se que médicos são proibidos de fazer isso pelo código de ética). A polícia aparece e elas são intimadas a prestar depoimento.
Como diz a economista Lena Lavinas, “começa a lembrar o momento em que Hitler subiu ao poder”.
Acesse no site de origem: Sinais do fascismo: Mulheres que discutem aborto são “denunciadas”, por Tereza Cruvinel (Brasil 247, 02/03/2016)