(Profissão Repórter, 28/10/2014) Uma em cada cinco brasileiras até 40 anos de idade já fez pelo menos um aborto ilegal. O Profissão Repórter investigou o que leva essas mulheres a fazer um aborto.
No ano de 2013, 67 mil mulheres fizeram aborto no estado do Rio de Janeiro. No mês de outubro, a Polícia Civil fez a maior operação contra clínicas clandestinas no Brasil. Cinquenta e nove pessoas foram presas.
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Foi em uma das clínicas dessa quadrilha que Jandira Cruz morreu. Ela tinha 27 anos e estava grávida de três meses quando saiu de casa para fazer um aborto. Seu corpo foi encontrado vinte e sete dias depois, em um carro carbonizado.
A jovem morava com a mãe e uma irmã. Ela já tinha duas filhas de 8 e 11 anos. “A Jandira era uma jovem especial. Tinha os defeitos dela, como qualquer ser humano, mas sempre cuidou muito bem da gente, era brincalhona. A vida dela era para as filhas dela. Ela estava muito desesperada até pelo fato de ela trabalhar somente para as filhas dela. Ela tinha a carga toda nas costas dela. Mais um que vou ter que sustentar, mais um que o pai não quer”, conta a mãe Maria Ângela dos Santos.
A dona de casa Elizângela Barbosa, de 32 anos, foi levada em estado gravíssimo para um hospital de Niterói. Durante o procedimento de aborto, ela sofreu cortes profundos no útero e no intestino. Elizângela já tinha três filhos e morava com eles e o marido em uma casa simples no bairro do Engenho Pequeno.
O caso foi investigado pelo delegado da Divisão de Homicídios de Niterói. A chefe da quadrilha responsável pela clínica onde Elizângela fez o aborto foi presa e disse que não usou nenhum objeto para o procedimento, apenas remédios.
Em 2013, a Polícia Civil do Rio de Janeiro fez uma operação com escutas telefônicas autorizadas pela Justiça para identificar uma quadrilha que oferecia serviços de aborto pela internet. A polícia prendeu seis mulheres que estavam num ponto de encontro combinado pela quadrilha.
Nossa equipe encontrou duas delas, uma teve o filho que estava esperando, a outra realizou o aborto dias depois. “Eu acho que essa questão legal, essa questão moral, essa questão religiosa não são elementos que impedem uma mulher de interromper a gravidez. O que vai impedir a mulher de interromper uma gravidez é a vontade dela ou influência da família e do parceiro. Minha família tem uma renda apertada e eu não achava justo. Muitas vezes a gente está tão abalada emocionalmente, psicologicamente, que a gente não pensa no que está fazendo. Se metendo num lugar que a gente não sabe qual é, entrando dentro de um carro”, conta ela.
Nas redes sociais há várias páginas que funcionam como classificados para quem deseja interromper a gravidez. É possível encontrar médicos que fazem o serviço, mulheres que querem abortar e instituições religiosas que tentam evitar os procedimentos.
Na cidade de Canoinhas, em Santa Catarina, fica a casa que acolhe mulheres grávidas e tenta convencê-las a não fazer o aborto. Há um ano e meio, a religiosa Magdalena Chicon dá abrigo a grávidas que querem abortar. “Ele é um ser independente, que foi colocado no útero dessa mulher, e Deus tem um objetivo para ele”, diz.
Uma mulher que 36 anos, mãe de dois adolescentes, foi recebida no abrigo de Magdalena após tentar abortar quatro vezes sem sucesso. Dois meses antes do parto, ela decidiu entregar a criança para a adoção. “Pelo fato de tentar prejudicá-lo, eu não me achei digna de ficar com ele. Acho que ele merece uma família melhor”, disse. O menino nasceu saudável, foi entregue ao Juizado da Infância e adotado por outra família.
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