09/03/2011 – Renda da mulher sobe mais do que a do homem no NE (Folha)

09 de março, 2011

(Folha de S. Paulo) A renda das mulheres cresceu mais que a dos homens em três regiões metropolitanas do Nordeste segundo pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) realizada em 2010. O aumento real do salário mínimo e a economia aquecida beneficiaram mais a mão de obra feminina na região; contudo, apesar da melhora, rendimento delas corresponde a 76% do ganho deles.

Reportagem da Folha aponta que: “em Fortaleza, em Recife e em Salvador, enquanto o rendimento feminino por hora avançou de 1,8% a 12,7%, o masculino variou de -0,2% a 9,7%. Nas outras regiões do país, a renda feminina também avançou, mas em São Paulo e em Porto Alegre o incremento foi menor do que o obtido pelos homens. Em Belo Horizonte e no Distrito Federal, a variação foi semelhante”.

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Fontes: Folha de S.Paulo; Diesse/Seade.

“Lúcia Garcia, supervisora da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, afirma que a combinação do aumento do mínimo com o crescimento acelerado em 2010 explica a vantagem feminina nas três capitais nordestinas. Garcia pondera que, no Nordeste, as mulheres estão concentradas em postos de trabalho que pagam o mínimo. Portanto, a variação no rendimento base -que teve aumento real de 6,02% no ano passado- é mais determinante para elas.”

“O fato de os salários no Nordeste serem mais baixos acentua a importância da alta real do salário mínimo. O professor José Dari Krein, da Unicamp, concorda. ‘As categorias com menores rendimentos foram mais beneficiadas com a política de valorização do salário mínimo, o que beneficia as mulheres’.”

“Para Marcio Pochmann, presidente do Ipea, a melhora na renda das mulheres pode ser explicada, em parte, por uma ‘transição’. ‘Elas deixam de ocupar serviços domésticos e informais para vagas com mais proteção, como no setor industrial.’ Pedro Paulo Carbone, diretor-executivo do Ibmec Brasília, afirma que é necessário incrementar as políticas públicas para diminuir a desigualdade salarial.”

Leia também:

Avanço depende de mudanças na relação entre homens e mulheres, entrevista com a ministra Iriny Lopes

A ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, acredita que o avanço na renda das mulheres em comparação com a dos homens é positivo, mas ainda ocorre em ritmo “muito lento”. “A mudança é pequena e com um ritmo muito lento para que se possa imaginar que sozinho o mercado de trabalho vai eliminar a desigualdade salarial”, diz a ministra.

“Criar melhores condições para o trabalho das mulheres fora de casa depende de políticas públicas, mas também de mudanças importantes nas relações entre mulheres e homens na sociedade”, ressalta a ministra.

Mercado de trabalho, ganhos e desafios para as mulheres, artigo especial para a Folha, o economista Claudio Salvadori Dedecca, da Unicamp

“Nessa década que se inicia, as perspectivas para ocupação e renda são completamente diferentes daquelas que o país tinha em 2001. A economia restabeleceu sua capacidade de crescimento, geração de empregos formais e recuperação da renda.
Como resultado global para a década passada, ocorreu redução acentuada do desemprego e queda da informalidade nas diversas regiões brasileiras, e que foram relativamente mais favoráveis às mulheres. Apesar da recuperação da renda, o rendimento médio do trabalho em 2010 continuava sendo inferior ao observado em 2001, para ambos os sexos.
Contudo, os trabalhadores da base do mercado de trabalho, em especial as mulheres, conseguiram ganhos reais de renda. O resultado foi determinado pelo salário mínimo, em razão de seu impacto se concentrar nas ocupações de menor remuneração.
A relação entre crescimento, emprego e renda tem beneficiado relativamente mais as mulheres.
Cabe reconhecer que a recuperação do mercado de trabalho ainda não foi capaz de alterar substantivamente os perfis de baixa renda, baixa qualificação e elevada informalidade que caracterizam nossa estrutura ocupacional.
Pode-se afirmar que são amplas as possibilidades de transformação estrutural do mercado de trabalho com redução das desigualdades de ocupação e renda entre homens e mulheres ao longo desta década.
Contudo, tal processo dependerá certamente do desempenho econômico, de um lado, mas da ampliação do foco das políticas públicas de emprego e renda, de outro.
Além de manter a política de salário mínimo, é preciso investir na qualificação das ocupações com maior inserção da mulher, reduzir a discriminação em vários segmentos do mercado de trabalho, garantir a presença das mulheres na negociação coletiva, além de ampliar os serviços públicos de creche e escola em tempo integral.
Aproveitar tal oportunidade dependerá dos governos e da sociedade saberem tomar as iniciativas adequadas.”

Acesse essas matérias em pdf:
Renda da mulher sobe mais do que a do homem no NE (Folha de S.Paulo – 09/03/2011)
Ministra vê avanço muito lento na renda, entrevista com a ministra Iriny Lopes (Folha.com – 09/03/2011)
Mercado de trabalho, ganhos e desafios para as mulheres, por Claudio Salvadori Dedecca (Folha de S. Paulo – 09/03/2011)

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