(Diário Online) Os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil do dia 20 ao 22 de junho, quando será realizada, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, denominada Rio+20. A previsão é de que chefes de Estado e representantes de 193 países participem da reunião. Desde o início do mês, inúmeros eventos paralelos estão acontecendo também no Rio de Janeiro. O objetivo é estabelecer uma plataforma de propostas a serem apresentadas pelo governo brasileiro durante a Conferência.
Diversos segmentos se mobilizaram para elaborar documentos para serem debatidos na Rio+20, entre eles as mulheres líderes nos setores público e privado. Pela primeira vez na história, “presidentas” e primeiras-ministras estarão reunidas para discutir ações concretas para a integração plena das mulheres às discussões sobre o desenvolvimento sustentável.
O grupo de mulheres considera uma oportunidade ímpar para que todos reflitam sobre os limites da terra e o futuro que queremos. Elas conseguiram fazer com que a temática de gênero fosse incluída nos debates sobre desenvolvimento sustentável na Rio+20.
As mulheres vão pleitear na Conferência, especialmente, o tratamento de temas relacionados a três eixos básicos. São eles: o combate à desigualdade de salários e de oportunidades e a violência contra a mulher; repensar a divisão sexual do trabalho, buscando melhores condições para a mulher; e incentivar o empoderamento feminino, especialmente a presença da mulher em posições de comando em todo o mundo.
No Brasil, há 97 milhões de mulheres, que representam 51% da população. Pelo menos 40% das famílias são chefiadas atualmente por mulheres. Há 10 anos, esse total não chegava a 25%, segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.
O grupo partiu do dado de que são as mulheres que escolhem 70% das compras no Brasil, para basear as considerações sobre a importância de conscientizar o público feminino, por meio de campanhas publicitárias, a consumir da forma menos impactante possível para o meio ambiente.
“A Rio+20 é uma oportunidade para as mulheres do Brasil e do mundo debaterem suas prioridades com líderes políticos de todos os continentes. A participação das mulheres é essencial para alcançarmos o desenvolvimento sustentável, já que exercemos o papel de administradoras da casa, da família, das compras nos supermercados, dos produtos que devemos ou não consumir, só para citar alguns exemplos do nosso papel no comando da casa”, destaca a Procuradora Especial da Mulher da Câmara dos Deputados, Elcione Barbalho, que também participa do grupo “Mulheres pela Sustentabilidade”.
Grupo fomenta o empreendedorismo verde
A senadora e vice-presidente do Senado, Marta Suplicy (PT-SP), concorda que as mulheres exercem um papel fundamental para a sustentabilidade. Ela lembra que as mulheres têm um papel fundamental para manter o consumo sustentável, já que detêm o poder de compra e desempenham um papel importante na preservação do meio ambiente. “Somos nós, mulheres, que decidimos as compras. Estamos preparadas para atuar em tantos nichos, e este do consumo é fundamental”, avaliou.
Durante o encontro preparatório “Mulheres Rumo à Rio+20: A Sustentabilidade no Feminino”, realizado no início de junho, no Rio, mais de 200 mulheres líderes de todos os setores se reuniram para elaborar o documento “Plataforma 20”.
Participaram as ministras da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci ,e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. O grupo conta ainda com líderes corporativas, como a diretora de relacionamentos da empresa KPMG, Ieda Novaes; a presidente da Masisa no Brasil, Marisa Barroso; a diretora de Negócios Sustentáveis da Coca-Cola do Brasil, Cláudia Lorenzo; e a diretora de Sustentabilidade da Rede Walmart no Brasil, Camila Valverde, entre outras; além de lideranças acadêmicas, organizações não governamentais etc.
“As discussões e temas da Conferência Rio+20 se enquadram, para nós, nos marcos dos compromissos do governo brasileiro com a efetiva inclusão da perspectiva de gênero em todo o processo de sustentabilidade econômica, política, social e cultural. Nele, as mulheres rurais, indígenas, ribeirinhas, quilombolas, das florestas e negras são estruturantes”, lembrou a ministra Eleonora.
Na Declaração do Rio, assinada há 20 anos, em 1992, ficou reconhecido que as mulheres desempenham um papel vital no gerenciamento e no desenvolvimento ambiental. O grupo “Mulheres pela Sustentabilidade” vai intensificar as decisões sobre o documento e inserir a temática do empoderamento das mulheres nos debates sobre desenvolvimento sustentável.
Na Rio 92, a presença feminina foi marcada pelo Planeta Fêmea, um espaço no Fórum Global de ONG’s que organizou painéis sobre temas diversos. A escritora Júnia Puglia, ex-executiva da ONU Mulheres, que esteve presente na Rio 92, conta que na época não havia espaço oficial para o tratamento das questões de gênero na plenária oficial da Conferência.
“A voz feminina não era reconhecida e apenas depois de muitas negociações internas conseguimos um espaço. Por outro lado, no Planeta Fêmea do Fórum Global, a movimentação feminina foi muito marcante. Lembro de ter conversado com mulheres de aldeias no interior da Índia que nunca haviam saído dos seus vilarejos e estavam lá para apresentar suas agendas”, contou Júnia.
O Planeta Fêmea foi importante para a afirmação do movimento feminista. A visão das mulheres foi traduzida em mais de 90 recomendações específicas contidas na Agenda 21. Um de seus capítulos congrega um conjunto de recomendações, mecanismos e metas para integrar as mulheres e a questão de gênero em todos os níveis de governo e nas atividades correlatas de todas as agências da ONU.
Vinte anos depois, as mulheres vão ter papel fundamental na Conferência. Mais de 80 atividades oficiais e paralelas relacionando os temas desenvolvimento sustentável e as mulheres estão previstas para ocorrer durante a Rio+20. Essa é a estimativa da Secretaria de Políticas para Mulheres.
Participação feminina é fundamental
Além da presidente Dilma Rousseff, já confirmaram presença Cristina Kirchner (Argentina), Laura Chinchilla (Costa Rica), Dalia Grybauskaite (Lituânia), Ellen Johnson-Sirleaf (Libéria), Kamla Persad-Bissessar (Trinidad e Tobago) e Helle Thorning-Schmidt (Dinamarca). Michele Bachelet, ex-chefe de estado do Chile e Diretora Executiva da ONU Mulheres, também estará presente.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, classificou a participação da mulher como fundamental na definição de políticas para a área. “A Rio+20 é uma conferência de partida, para que possamos olhar e trabalhar para um futuro melhor. A mulher tem papel central nesse processo”, acredita.
A mobilização feminina é lembrada pela ministra em episódios como a Marcha das Margaridas, que anualmente reúne milhares de trabalhadoras rurais de todo o país em Brasília, para apresentar reivindicações ao governo federal. “É um exemplo inesquecível e demonstra que é possível avançar por meio do engajamento das mulheres”, afirmou Izabella Teixeira.
De acordo com a ministra, o Ministério do Meio Ambiente é o segundo órgão federal com maior número de iniciativas e projetos voltados para as mulheres, atrás somente da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República.
Acesse em pdf: Mulheres serão destaque nos debates da Rio+20 (Diário Online – 10/06/2012)