16/06/2012 – ‘É burro e atrasado separar a pobreza do meio ambiente’, afirma ministra do Desenvolvimento Social

16 de junho, 2012

(Natuza Nery, da Folha de S.Paulo-DF) Governo usa evento para sensibilizar outros países a adotar políticas que aliem transferência de renda à proteção ambiental. ‘É burro e atrasado separar a pobreza do meio ambiente’, afirma a ministra do Desenvolvimento Social

O governo usará a Rio+20 para sensibilizar o mundo a adotar, no futuro, políticas de transferências de renda casadas com proteção ambiental.

É o que diz a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. Seu objetivo é definir um calendário para discutir formas de implementar globalmente o chamado piso socioambiental: remunerar famílias pobres que protejam e recuperem o ambiente.

Segundo a ministra, o rascunho do acordo final da Rio+20 já traz dois parágrafos defendendo o “casamento” entre transferência de renda e sustentabilidade. Para ela, “é burro e atrasado separar a pobreza do meio ambiente”.

Folha – Transferir renda e proteger o ambiente é uma espécie de segunda fase do Bolsa Família?
Tereza Campello – Queremos que a população saia da pobreza. Se a gente puder tirar as pessoas da pobreza e melhorar a situação do planeta, ótimo para quem é pobre e para nós que vivemos nele.

O Bolsa Verde consegue preservar a floresta?
Se o pobre morar num ativo ambiental -reserva ou assentamento extrativista e floresta, fotografamos o local e fazemos um contrato com a família. Após um ano, checamos se não derrubou mata e se a família está fiscalizando.

Sustentabilidade não é só cuidar de floresta. Como avançar?
Estudamos transferências de renda para áreas já degradadas. O dinheiro serviria para a população recuperá-las. O Bolsa Verde foi nossa inspiração, mas queremos chegar a ribeirinhos, pescadores etc.

Essa é uma “agenda pop” para o mundo?
Acho que é a grande novidade da agenda de sustentabilidade no atual momento. Nunca foi tratado de forma tão conjunta como agora, em que falamos numa conferência tanto do verde quanto da pobreza. Se a gente não forçar essa agenda, ela não acontece naturalmente.

E o mundo aceita incluir a proposta no acordo da Rio+20?
Já há dois parágrafos sobre a superação da pobreza com a agenda ambiental. Não queremos seja uma ideia legal do Brasil, mas uma ideia legal para o mundo. A ideia é sair da Rio+20 com calendário para tentar implementar isso.

Não é natural juntar pobreza e ambiente?
Pelo contrário. Quando se fala em reduzir poluição, pensa-se em tecnologia, que não necessariamente inclui.

Repasse é feito a famílias em troca de preservação
DENISE MENCHEN, DO RIO
Inspirado no Bolsa Família e no Bolsa Verde, o piso social, ou socioambiental, visa garantir renda a famílias pobres ao mesmo tempo em que fomenta atividades de conservação ambiental.
Segundo negociadores brasileiros na Rio+20, o objetivo da proposta não é impor a outros países o modelo do Bolsa Verde, mas obter um compromisso político que viabilize a adoção de ações com o mesmo espírito do programa. “A intenção é que, caso o país opte por esse tipo de medida, receba apoio internacional”, disse o embaixador André Corrêa do Lago.
Implantado em 2011, o Bolsa Verde faz pagamentos trimestrais de R$ 300 a famílias com renda mensal per capita abaixo de R$ 70 que se comprometam com a preservação e a recuperação de áreas em suas comunidades -em maio, havia 17.267 beneficiários.

Acesse em pdf: Brasil quer exportar Bolsa Família ‘verde’ (Folha de S.Paulo – 16/06/2012)

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