24/02/2013 – Pobreza extrema deve sumir, mas desigualdade persiste, por Marcelo Medeiros

24 de fevereiro, 2013

(Folha de S.Paulo) É nessa época que Josué de Castro publica “Geografia da Fome “” O Dilema Brasileiro: Pão ou Aço”. O livro destaca, com uma lucidez impressionante, o papel que a injustiça social tem sobre a fome. O dilema estava colocado, e o Brasil optou pelo aço, apostando no crescimento em vez de investir na igualdade.

Todavia, no final dos anos 1990, o que Josué de Castro chamava de fome total, a desnutrição profunda, já caminhava para níveis residuais: o Brasil fazia a transição da desnutrição para a obesidade dos pobres –de certo modo, uma fome oculta, na qual se come todos os dias, mas mal.

Há mais por trás da obesidade do que simplesmente a falta de renda para comprar alimentos saudáveis, mas não havia dúvida de que, para mudar esse quadro, pensar no futuro significava pensar em resolver o problema da pobreza.

Essa fome oculta continua existindo, mas o fato é que a pobreza começou a diminuir.

Uma combinação de recuperação econômica com políticas sociais e de trabalho fez com que a renda dos pobres aumentasse. Além de uma economia mais forte, aumentos do salário mínimo, da cobertura previdenciária e a expansão de dois programas de assistência social –o Benefício de Prestação Continuada e o programa Bolsa Família– ajudaram a reduzir a pobreza no país.

Toda pobreza é extrema, mas é justo priorizar os pobres em piores condições. Hoje, a indigência no país segue o caminho antes percorrido pela desnutrição profunda e ruma ao desaparecimento.

A evolução da economia, um aumento nos gastos com a assistência social e a priorização dos mais pobres devem erradicá-la ainda nesta década. O fim iminente da indigência é uma ótima notícia, mas ainda há muito a fazer, pois continuamos entre os países mais desiguais do mundo.

O dilema continua sendo entre pão e aço, mas em um nível diferente. Se por um lado a indigência entre os 15% mais pobres irá desaparecer em breve, por outro o 1% mais rico da população ainda detém 17% da renda do país, segundo o Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Um Brasil muito mais desenvolvido que o de Josué de Castro pode ambicionar bem mais do que acabar com a indigência, mas daqui para frente o desafio é maior: reduzir o abismo entre os ricos e o resto da população.

Acesse em pdf: Pobreza extrema deve sumir, mas desigualdade persiste, por Marcelo Medeiros (Folha de S. Paulo – 24/02/2013)

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