(EBC, 08/12/2015) Assunto que permeia a programação do Emergências, as mulheres voltaram a protagonizar o encontro global para debater a cultura como motor transformador da sociedade. Ativistas, militantes e pensadoras discutiram o cenário e atuação dos movimentos feministas no Brasil e na América Latina na tarde desta terça-feira (8).
O evento, promovido pelo Ministério da Cultura (MinC), no Rio de Janeiro (RJ), busca criar um espaço de conexão e diálogos com a sociedade civil sobre o papel da cultura na sociedade.
“Não mais nos calaremos. Há um grande levante de mulheres no Brasil afirmando que os conservadores não passarão”, iniciou mediadora da roda de conversa chamada “Boom do Feminismo: estamos indo juntas pra onde?”, Maria das Neves, liderança da União Brasileira de Mulher (UBM) e União Nacional da Juventude (UNJ).
A criadora do do Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero, Raça e Sexualidade, Djamila Ribeiro, e colunista da Carta Capital, avaliou a importância de que, antes de pensar para onde o movimento feminista vai, seja pensado como essa história foi contada. “Tem que fazer uma revisão e recontar essa história. A mulher negra sofre opressão por ser mulher, negra e pela classe social. Está tudo inter-relacionado. Ser feminista é pensar um novo modelo de sociedade. Não só o que nos diz respeito; tudo nos diz respeito”, ressaltou Djamila.
A advogada e produtora cultural, Eliane Dias, lembrou da morte da auxiliar de serviços gerais, Claudia Silva Ferreira, depois de ter sido baleada durante operação policial no Morro da Congonha, na zona norte do Rio, quando saía para comprar pão; e da recente execução dos cinco jovens pela Polícia Militar do Rio.
“Os índices de feminicídio, de crimes domésticos, de mães solteiras são maiores paras as mulheres negras. A cada mãe que chora um filho negro morto, eu choro também.Nós temos que pra rua, parar o trânsito. Colocar na janela nosso luto. Se a gente for agredida, todo mundo tem que parar. O que não pode é ficar falando que é feminista, ver uma mulher negra sofrer e ficar sem fazer nada”, argumentou Eliane, que produz o grupo Racionais MC’s e é esposa do rapper Mano Brown.
Para a militante do Movimento Amplio de Mujeres de Porto Rico, Shariana Ferrer Nuñez, é curioso que no contexto do Brasil e da América Latina se tente separar raça de gênero. “Tanto raça e gênero se vinculam ao corpo. Não há como separar. A violência do opressor também vale para homens, mulheres, negros”, disse.
A exclusão dentro dos próprios grupos feministas foi lembrada pela ativista Monique Prada, do site Mundo Invisível, que visa cobrir a questão do trabalho sexual no mundo. “É importante que se pense a questão da exclusão dentro do feminismo. As prostitutas, ao tentar construir esse espaço, muitas vezes, são oprimidas pelas companheiras”.
Aborto, violência e identificação das mulheres nas manifestações mais recentes também foram destaques da roda de conversa, realizada na Fundição Progresso, local que reúne grande parte das atividades do evento. “No Brasil, o aborto é a quinta causa de morte materna. O direito do que fazer com corpo é nosso”, defendeu a liderança do Movimento #ForaCunha e símbolo da #PrimaveradasMulheres, Luciana Pedroso, que em outubro deste ano encenou, nua com o corpo pintado, a escultura viva da Vênus de Willendorf, durante manifestação no Rio de Janeiro.
O cenário da luta pelos direitos da mulher no Peru e no Uruguai foram apresentados pelas militantes da Mujeres en el Horno, grupo uruguaio, Federica Turbán, e pela dançarina e ativista peruana, Micaela Tavara, do movimento Facción.
“No Peru, há 20 mil denúncias de violência sexual contra mulheres ao ano, mas a realidade é muito mais horrível. Temos que tomar o espaço público, porque o espaço público é nosso”, afirmou Micaela.
Marília Arrigoni
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