IDH revela como a desigualdade afeta o Brasil

14 de dezembro, 2015

(Carta Capital, 14/12/2015) Relatório do Pnud reafirma efeitos negativos da disparidade e levanta preocupação sobre prolongamento da crise

O mais recente relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, divulgado nesta segunda-feira 14, voltou a mostrar de forma clara os efeitos negativos que a desigualdade social produz sobre o Brasil. Se a enorme disparidade entre as pessoas é levada em conta, o País perde uma parte significativa do desenvolvimento conquistado nas últimas décadas.

Leia mais: Desigualdade social faz Brasil perder um quarto do IDH em novo índice do Pnud (UOL, 14/12/2015)

O IDH é produzido pelo programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e traz uma medida do avanço das sociedades com base em três componentes: expectativa de vida, educação e renda. O índice vai de zero a um, sendo a Noruega o país de maior IDH atualmente (0.944) e o Níger o 188º e último da lista (0.348).

Trata-se de um índice estrutural, no qual as mudanças devem ser, segundo o próprio Pnud, analisadas em período de longo prazo. Tal comparativo é positivo para o Brasil. Entre 1990 e 2014, o Brasil foi o país da América do Sul que mais avançou. Segundo Andrea Bolzon, coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil, em boa parte por conta de políticas públicas.

“O relatório reconhece esses programas de proteção social e de transferência de renda como importantes para aumentar o desenvolvimento humano. O desenvolvimento dos países tem acidentes de percurso e, se você tem uma rede de proteção social forte, obviamente as coisas ficam mais seguras para todo mundo”, afirmou Bolzon.

Mudanças ocorridas de um ano para o outro são, entretanto, menos representativas. Entre 2013 e 2014, o IDH do Brasil foi de 0,752 para 0,755, avanço pouco significativo estatisticamente, equivalente aos dos países que estão à frente no ranking geral.

A velocidade do avanço não foi maior por conta da primeira retração da Renda Nacional Bruta per capita registrada desde 1990, que caiu de 15.288 dólares em 2013 para 15.175 dólares em 2014. Como a expectativa de vida ao nascer e a média de anos de estudo cresceram no período (de 74.2 para 74.5 e de 7,4 para 7,7, respectivamente), o País teve avanço.

No ranking de 2014, o Brasil aparece em 75º lugar, uma posição atrás da verificada em 2013. A variação de posições é pouco relevante, no entanto, pois a diferença entre países com pontuação próxima é bem pequena, segundo o próprio Pnud.

O impacto da desigualdade fica expresso quando o IDH é ponderado pela desigualdade social, verificação que vem sendo feita pelo Pnud desde 2010. Nesta modalidade de análise não há um ranking comparativo entre os países porque nem todos têm dados suficientes disponíveis.

Andréa Bolzon, do Pnud

Andréa Bolzon, do Pnud, apresenta citações ao Brasil no relatório do Pnud, nesta segunda-feira 14, em Brasília (Foto: Reprodução)

No caso do Brasil, a ponderação pela desigualdade faz o País perder 26,3% de seu IDH, que vai de 0,755 para 0,557. A queda é significativamente maior que a sofrida pela média dos países (19,4%) e mesmo que a sofrida pelos países latino-americanos (23,7%). É maior, também, que as experimentadas por México (22,4%) e Colômbia (24,7%), países latinos com populações que podem ser comparadas à brasileira.

A persistência da desigualdade e de seus efeitos negativos, aliados à expectativa de mais um ano de recessão em 2016, criam um cenário preocupante para o País. É possível que o prolongamento da crise atual afete o desenvolvimento humano brasileiro. “Quem sabe até onde vai essa crise? Ninguém sabe ainda. Pode afetar (o IDH), mas não se for uma crise de um ano ou dois (apenas). Nenhum país dorme numa posição e acorda na outra. É um processo mais lento”, disse à BBC Brasil Bolzon, coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil.

“Se a economia se recupera desse ano para o próximo, vamos supor, a tendência é que não afete (o índice) porque não vai dar tempo de afetar a expectativa de vida das pessoas ou quanto as pessoas vão estudar”, diz.

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