A internet está ficando mais agressiva, e mulheres e minorias são os maiores alvos

04 de novembro, 2017

Mas existem medidas que você pode tomar para combater o assédio online.

(HuffPost Brasil, 04/11/2017 – acesse no site de origem)

A internet está deixando todo o mundo agressivo, está seriamente prejudicando nossa capacidade de nos entendermos uns com os outros, e os alvos principais de agressões são mulheres e membros de minorias.

E não é uma coisa geracional. Um novo estudo revela que os australianos mais velhos estão denunciando mais abusos online do que jamais antes.

Feito pela empresa de segurança na internet Norton by Symantec, o estudo nos chegou em um momento interessante. Na semana passada a página de Facebook de um grupo de um colégio secundário australiano virou o “marco zero” de onde começou um processo de assédio e agressões à poeta Ellen van Neerven, autora do poema “Mango”, que fez parte de um exame de inglês do HSC (algo como o Enem australiano).

O estudo da Norton, divulgado na semana passada, revela que o número de pessoas que vêm sofrendo assédio online vem aumentando em todas as faixas etárias. O aumento maior está se dando entre os internautas de mais de 40 anos; nessa faixa, os incidentes atingiram 37% das pessoas em 2016 e 61% em 2017.

A Segunda Pesquisa da Norton sobre Assédio Online revelou:

  • Um aumento geral de pessoas de todas as faixas etárias que sofrem assédio online.
  • Insultos, críticas abusivas, fofocas maldosas e submeter as pessoas a boatos, tudo isso virou comum.
  • Grupos minoritários estão sofrendo as consequências, incluindo pessoas LGBTIQ, pessoas com problemas de saúde mental e com problemas de peso.
  • Os homens não compartilham experiências com seus pares, isolando-se ainda mais da sociedade.
  • Mais mulheres vêm recebendo materiais explícitos, sexuais e pornográficos indesejados.

Mas as pessoas com menos de 30 anos ainda formam o grupo etário mais visado; 85% delas relatam ter sofrido assédio online, e as pessoas dessa faixa têm mais chances de se tornarem vítimas de formas mais graves de abuso online, como cyberbullying, cyberstalking (perseguição online) e assédio sexual.

As mulheres sofrem impacto emocional negativo maior que os homens: 33% delas manifesta raiva, 32% dizem ter sentido ansiedade e 29% relatam sentimentos de depressão.

Mais de metade das mulheres que apresentaram depressão em consequência do assédio precisou buscar ajuda médica, fato que, segundo os autores do estudo, confirma o impacto negativo do assédio cibernético sobre a saúde mental, além de reforçar a importância de as pessoas se informarem sobre segurança online.

Como é sofrer cyberbullying?

  • É quando você recebe mensagens de texto ofensivas ou cruéis de pessoas que você conhece ou até alguém que você não conhece.
  • É receber mensagens ofensivas ou ameaçadoras através de redes sociais como Facebook ou Twitter ou através de sites em que as pessoas podem fazer e responder a perguntas, como o Formspring ou fóruns na internet.
  • Pessoas enviam fotos ou vídeos de você a outros com a finalidade de envergonhar ou ofender você.
  • Pessoas espalham boatos a seu respeito em e-mails, redes sociais ou mensagens de texto.
  • Pessoas tentam impedir você de comunicar-se com outros.
  • Pessoas roubam suas senhas ou penetram em suas contas e modificam as informações que constam nelas.
  • Pessoas criam perfis falsos fazendo-se passar por você ou postam mensagens e atualizações de status a partir das suas contas.

Fonte: AHRC

Embora o número de incidentes em cada caso possa ser limitado a uma ou duas instâncias raras, o aumento do número total de denúncias é preocupante, disse Melissa Dempsey, diretora sênior das filiais da Norton no Japão e Ásia-Pacífico.

“O assédio online ou cibernético continua a ser uma ameaça real para jovens e idosos”, disse Dempsey em comunicado.

“O número maior de incidentes talvez se deva ao fato de as pessoas hoje se sentirem mais confiantes para fazer denúncias. Mas o fato de que os relatos sobre bullying e comportamentos abusivos online vêm aumentando exige ação imediata em defesa da segurança e privacidade online dos usuários.”

Medidas que você pode tomar para ajudar a combater o assédio online:

REVEJA sua presença online em todos seus aparelhos:

  • Cheque suas configurações de segurança e privacidade;
  • Mude suas senhas regularmente.

RECONHEÇA o problema se ele acontecer e aja prontamente:

  • Não responda ao perpetrador.
  • Guarde todos os registros e provas do assédio, fazendo uma cópia da mensagem da foto ou do vídeo.
  • Se você testemunhar assédio online, dê apoio à pessoa que é alvo do assédio e, dependendo da situação, avise aos perpetradores que seu comportamento é inaceitável.

DENUNCIE:

  • Se alguém disser ou fizer algo inapropriado ou que for sentido como assédio, denuncie imediatamente às autoridades relevantes.
  • Se conteúdos inapropriados forem exibidos online, contate os operadores do site por telefone ou e-mail, pedindo que o conteúdo seja tirado do ar ou bloqueado.

Pessoas jovens de grupos minoritários viram alvos

O fato de as pessoas viverem constantemente conectadas às redes sociais encerra riscos. O estudo constata que uma alta incidência de abusos pode ser atribuída ao fato de adultos jovens fazerem uso regular de sites populares como Facebook, Instagram e Snapchat.

Ser alvo de abuso e insultos (53%) além de fofocas e boatos maldosos (43%) hoje são queixas comuns, como revelou a pesquisa conduzida com 1.030 adultos acima de 18 anos.

Esse tipo de “assédio leve” é sofrido com mais frequência por australianos mais jovens, 67% dos quais denunciam ter sofrido abusos e insultos.

Uso maior de tecnologia leva a uma busca maior por apoio psicológico

Em abril o Kids Helpline (um serviço telefônico gratuito e confidencial disponível na Austrália para crianças e jovens que buscam ajuda psicológica) divulgou relatório mostrando que o uso maior de tecnologia levou a um aumento de 151% na procura por apoio psicológico por WebChat em um período de cinco anos, em que o número de contatos subiu de 12.643 em 2012 para 31.765 em 2016.

Em julho do ano passado o Kids Helpline começou a compilar dados sobre a prevalência do cyberbulling e outros problemas nesse espaço.

“Entre julho e dezembro de 2016, 1.566 contatos pedindo aconselhamento psicológico foram de crianças e jovens preocupados ou que estavam se sentindo inseguros em decorrência de sua atividade online ou com mensagens de texto”, disse Adams em abril.

“Além de bullying, os problemas denunciados incluíram participação em ‘sexting’ (trocar mensagens de teor sexual), receber contatos online indesejados, suspeita de estar sendo manipulados para fins de exploração sexual futura e uso descontrolado ou excessivo de games online ou redes sociais.”

O relatório Insights 2016 mostrou que Nova Gales do Sul e Victoria são os Estados australianos em que mais crianças e jovens acessam os serviços do Kids Helpline: 35% e 25% de todos os contatos vieram desses dois Estados respectivamente.

Quando mergulhamos mais fundo nas constatações do estudo da Norton, vemos que a situação é muito difícil para os membros de certos grupos minoritários.

Entre as pessoas que denunciam assédio com mais frequência estão deficientes físicos (59%), pessoas da comunidade LGBTQ (66%), pessoas com problemas de peso (66%) e pessoas com problemas de saúde mental (69%).

Crescem as denúncias de ameaças de violência, cyberbullying e cyberstalking

Desde a divulgação da pesquisa anterior, as denúncias de ameaças de violência física mais que dobraram, passando de 16% para 35%, com homens jovens e membros de minorias sendo os alvos mais prováveis.

As denúncias de cyberbullying e cyberstalking também aumentaram significativamente, passando respectivamente de 20% para 33% e de 15% para 29%.

O cyberbullying é uma preocupação especial para os australianos mais jovens (57%), para os da comunidade LGBTIQ (55%) e para pessoas com saúde mental problemática (48%).

Quando se trata de identificar os responsáveis por cyberbullying, os homens tendem mais a dizer que desconhecem sua identidade (39%) ou que eles são desconhecidos totais (30%). Entre as mulheres que já sofreram bullying, 28% disseram que os perpetradores foram um ex-amigo ou conhecido.

As mulheres jovens têm probabilidade um pouco maior que os homens de serem alvos de assédio sexual, mas a gama e diversidade do assédio e dos insultos que recebem é maior.

A disparidade de gênero nos insultos e assédio:

  • 48% das mulheres, contra 31% dos homens, relataram que receberam comentários e mensagens sexuais de pessoas em suas contas de mídia social.
  • O número de pedidos de fotos ou imagens sexualmente explícitas foi bem maior para as mulheres: 44% delas denunciaram esse problema, que atinge apenas 25% dos homens.
  • As mulheres também relataram mais casos em que receberam materiais explícitos, sexuais e pornográficos indesejados, além de serem assediadas com convites para sair por alguém que se negava a aceitar que “não” é “não”.

Fato preocupante: 77% dos homens entrevistados disseram que não conhecem ninguém que já tenha sofrido assédio online, mas 70% dizem que já o sofreram, eles próprios.

Para a Norton, isso indica que a maioria dos homens não compartilha essa experiência com seus pares.

Eion Blackwell

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