(El País, 30/10/2014) Os vídeos com câmaras ocultas sobre assédio nas ruas contra mulheres em diferentes partes do mundo retomaram esse ano, na internet, um velho debate: “Chama isso de assédio?”.
O último exemplo é um vídeo sobre os comentários que uma mulher recebe ao passar, durante 10 horas caminhando por Manhattan, que viralizou nas últimas horas através das redes sociais e veículos de comunicação.
O que pode te acontecer se você é mulher e caminha pela rua, especialmente quando está sozinha? O que mostram os vídeos colocados na internet nos últimos meses:
1. Assediada por 100 homens em 10 horas. “Por que não me dá um sorriso? “Estão te fazendo um elogio e deveria agradecer”. “Como não fala comigo, se estou há cinco minutos caminhando ao seu lado e te olhando?”. A protagonista desse vídeo é uma atriz que em menos de 24 horas de polêmica recebeu até ameaças de estupro nas redes sociais, segundo denúncia da organização que promoveu essa câmera oculta. É a Hollaback!, uma rede social internacional que denuncia o assédio nas ruas contra mulheres. O vídeo já foi visto por 5,4 milhões de pessoas no Youtube, e recebeu 32.000 comentários até o fechamento desse texto.
Que tipo de comentários sobre esse vídeo podem ser vistos nas redes sociais? Os mais habituais nesses casos: desde os que denunciam o assédio até os que (e as que) minimizam ou diminuem qualquer importância, clamam contra “as feministas” (ou “feminazis”), defendem que são comentários inocentes e aplaudem o que consideram a cultura do elogio. Frases típicas de quem critica esses tipos de vídeos: a) O que é isso, agora não vou poder dizer ‘bom dia’ para uma garota? b) Eu adoro quando me dizem!
2. O mundo ao contrário: o homem oprimido e assediado. Esse vídeo, colocado em fevereiro, é um curta no qual a atriz e cineasta francesa Eleonore Pourriat muda a realidade. “A inspiração foi minha vida cotidiana em 40 anos!” contou para o EL PAÍS. O protagonista recebe elogios como “Que bunda!” e é vítima do ataque de um grupo de bandidas que o ameaçam à ponta de navalha e terminam mordendo seu pênis.
3. O que vê uma câmera no decote. O vídeo foi uma ação patrocinada pela Nestlé no mês passado sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. A câmera oculta demonstra como é habitual receber olhadas para o decote e termina com um recado para as mulheres: “Seus peitos são examinados todos os dias. Quando foi a última vez que você mesma os examinou?”.
4 e 5.Um ator disfarçado de mulher para demonstrar o assédio às mulheres no Cairo (esse é de 2013) …
… e uma mulher gravando o que significa andar sozinha na capital do Egito. Sobre esse último, suas criadoras explicam no Vimeo: “O vídeo só mostra os olhares mas dá uma ideia de como pode ser intimidante andar na rua”.
Na Espanha, em 2012 a atriz e ativista feminista Alicia Murillo realizou o projeto “O casado caçado” (vídeos em seu site) para flagrar situações de assédio nas ruas. Nas gravações, recrimina a atitude dos protagonistas e reflete sobre isso. Da sua parte, o ramo espanhol do site everydaysexism.com funciona como “projeto global para expor e catalogar episódios de sexismo cotidiano”.
Lucía Gonzáles
Acesse no site de origem: Internet impulsiona debate sobre opressão a mulheres (El País, 30/10/2014)