Medicamento que induz aborto pode ser usado para prevenir câncer de mama

27 de agosto, 2025 Folha de S. Paulo Por Luana Lisboa

Falta de investimento em estudos para avaliar mifepristona, no entanto, é empecilho

O estigma contra a mifepristona, medicamento há décadas utilizado para induzir o aborto, impede que ele seja visto como potencial tratamento preventivo para o câncer de mama, aponta artigo publicado na revista Lancet Obstetrics, Gynaecology & Women’s Health este mês.

A substância recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para a interrupção de gravidez, —especialmente em combinação com o misoprostol— também já foi apontada por estudos pré-clínicos limitados como uma forma de reduzir o risco do tumor, o maior causador de mortes por câncer entre mulheres no mundo. No entanto, por ser largamente associado ao aborto, farmacêuticas relutam em investir no fármaco, apontam os autores, pesquisadores de universidades europeias.

Há também uma preocupação por parte dos países com acesso restrito ao aborto em disponibilizar o medicamento, o que impõe desafios à pesquisa, incluindo barreiras legais e acesso dificultado mesmo para fins de estudos.

Três estudos laboratoriais já realizados descobriram que a substância pode retardar o crescimento celular no tecido mamário. Isso ocorre porque a mifepristona inibe os efeitos do hormônio progesterona, um impulsionador do crescimento celular.

O mecanismo de ação para cada procedimento depende do momento da administração, se acontece durante o ciclo menstrual ou na gravidez, bem como da dosagem, diz à Folha a autora Kristina Gemzell Danielsson, professora no Instituto Karolinska, na Suécia.

“No aborto, o bloqueio da progesterona levará ao aumento das contrações uterinas e à expulsão da gravidez. Durante o ciclo menstrual, dependendo da dose de mifepristona, ela pode inibir a ovulação e/ou a receptividade endometrial e, assim, impedir a fixação do embrião”, explica.

Para a prevenção do câncer, o medicamento seria especialmente útil para mulheres com alto risco de desenvolver a doença, como as com mutação BRCA, alteração genética em genes que reparam o DNA. Hoje, a opção mais comum para mulheres que identificam a mutação é a cirurgia de redução de risco, com a retirada da mama.

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