Número de participantes representa diretoras indicadas à premiação ao longo dos 71 anos de festival; indicações de filmes dirigidos por homens passa de 1.600.
(G1, 12/05/2018 – acesse no site de origem)
Cate Blanchett, Marion Cotillard, Salma Hayek e dezenas de outras mulheres do mundo do cinema exigiram espaço e igualdade salarial no tapete vermelho de Cannes, neste sábado (12), em uma iniciativa histórica no maior festival de cinema do mundo.
“Desafiamos nossos governos e os poderes públicos a aplicarem as leis sobre igualdade salarial”, disse a cineasta Agnès Varda em nome de todas, na primeira edição do evento desde os escândalos envolvendo o produtor Harvey Weinstein.
O número de mulheres que tomaram parte do protesto foi escolhido propositalmente, em referência a quantos filmes dirigidos por mulheres já foram indicados à premiação ao longo dos 71 anos de história do festival. Em contraste com as 82 cineastas já indicadas, no total Cannes já teve mais de 1.600 películas dirigidas por homens nas listas anuais da seleção.
A parada para fotos na escadaria também teve um significado. Simbolizava como “nem todas as etapas da ascensão social e profissional são acessíveis às mulheres”, segundo um comunicado do grupo 50/50 para 2020 e da Fundação Time’s Up, criada para ajudar as vítimas de assédio sexual após o caso Weinstein.
Na sequência, a presidente do júri, a australiana Cate Blanchett, leu uma declaração ao lado da cineasta francesa Agnès Varda, uma das raras diretoras da Nouvelle Vague. No júri, a diretora Ava DuVernay e Cate Blanchett fazem parte da Time’s Up.
Durante anos, Weinstein frequentou o Festival de Cannes como um produtor todo poderoso. Até ser desmascarado por uma centena de estrelas e atrizes mais jovens que o acusaram de estupro e assédio sexual.
Para mostrar que não ignora essa situação, os organizadores do Festival distribuem este ano um folheto lembrando as penas previstas para delitos e crimes sexuais. O folheto traz um número de telefone útil para denúncias e um slogan: “comportamento correto exigido”.
Compromissos concretos
O Festival também enviou um sinal forte ao escolher um júri predominantemente feminino, mas foi mais tímido em questões de assédio ou discriminação, dois tópicos que não foram discutidos na cerimônia de abertura. Hostil a qualquer discriminação positiva, a organização foi criticada por escolher apenas três mulheres em competição.
Na noite deste sábado, será exibida a primeira produção feminina na disputa pela Palma de Ouro, o filme “As Filhas do Sol” da francesa Eva Husson, sobre um batalhão de combatentes curdas comandado pela Sargento Bahar (Golshifteh Farahani). O segundo filme em competição é “Três Faces”, do iraniano Jafar Panahi, impedido de comparecer na mostra pelo governo de seu país.
Este dia “100% feminino” será seguido por uma série de debates e compromissos concretos até segunda-feira. No domingo, a ministra francesa da Cultura, Françoise Nyssen, apresentará, com sua colega sueca, Alice Bah Kuhnke, um projeto para apoiar financeiramente jovens diretoras em todo o mundo.
Na segunda-feira, uma carta para promover a diversidade e a paridade em festivais de cinema será assinada pelos três responsáveis pela seleção em Cannes, Thierry Frémaux, Edouard Waintrop e Charles Tesson.