(Folha de S. Paulo, 02/05/2016) Os filmes de Hollywood não avançaram em sua inclusão de personagens LGBT em 2015, e a diversidade racial dos personagens caiu dramaticamente, de acordo com as conclusões do estudo anual da Glaad (Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação, na sigla em português), organização que monitora como a mídia retrata os gays nos EUA.
De acordo com a pesquisa divulgada nesta segunda-feira (2), 17,5% dos filmes dos sete grandes estúdios norte-americanos continham personagens lésbicas, gays, bissexuais ou transgênero no ano passado.
A porcentagem total não foi alterada na comparação com o ano anterior. A diversidade racial dos personagens LGBT, no entanto, despencou. Em 2014, 32,1% dos personagens LGBT retratados em 126 filmes não eram brancos. Este ano, a porcentagem caiu a 25,5%.
A revelação surge em um momento de crescente debate em relação à diversidade em filmes de Hollywood, depois do segundo ano consecutivo em que nenhum dos indicados às principais categorias do Oscar era negro, e de um relatório negativo da Universidade do Sul da Califórnia sobre uma indústria “embranquecida”.
Sarah Kate Ellis, presidente da Glaad, disse que em muitos casos os personagens LGBT estão presentes apenas como piadas nas produções.
“Os filmes de Hollywood ficam bem atrás de quaisquer outras formas de mídia no que tange a retratar personagens LGBT”, afirmou. “A indústria cinematográfica precisa abarcar histórias novas e inclusivas se deseja se manter competitiva e relevante.”
Enquanto a televisão continua a realizar avanços, em séries como “Orange Is the New Black” (Netflix) e “Transparent” (Amazon), o cinema tampouco está avançando em sua representação de personagens transgênero.
Apenas um grande estúdio apresentou um personagem principal transgênero —na comédia “Belas e Perseguidas”, com Reese Witherspoon e Sofia Vergara, que recebeu péssimas críticas. E, mesmo assim, isso representou um filme a mais do que o total do ano passado.
Nos quatro anos desde que o estudo começou a ser realizado, os sete grandes estúdios foram classificados como “bom”, “adequado” ou “insuficiente” em seus esforços.
A Lionsgate Entertainment, que teve o maior número de filmes com personagens LGBT entre os sete estúdios, a 20th Century Fox, Sony Pictures e Universal Pictures foram considerados adequados. A Paramount Pictures e a Disney Studios foram considerados inadequados, porque nenhum de seus filmes lançados em 2015 continha personagens LGBT.
O relatório oferece sinopse com foco LGBT sobre muitos dos filmes incluídos na pesquisa e explica os motivos para que a maneira pela qual os personagens retratados seja vista como positiva ou negativa, criticando filmes que contêm piadas alarmistas sobre os gays.
A conclusão do relatório é de que, no futuro, uma classificação “adequada” será insuficiente. No ano que vem, a Glaad vai submeter os estúdios a uma avaliação mais rigorosa, com uma escala de uma a cinco estrelas.
As divisões de filmes de arte dos grandes estúdios, como a Focus Features e a Fox Searchlight, se saíram melhor em geral. Dos 46 filmes avaliados, 22% incluíam personagens LGBT, ante 10,6% no ano anterior, com lançamentos como “A Garota Dinamarquesa”, “Grandma” e “Chi-Raq”.
Filmes notáveis de 2015, como o romance lésbico “Carol” e o drama “Tangerine”, sobre uma prostituta transgênero, foram mencionados no relatório, mas não incluídos nos percentuais gerais porque foram produzidos ou distribuídos por empresas menores ou independentes.
Acesse o PDF: Diversidade racial entre personagens LGBT despenca em Hollywood (Folha de S. Paulo, 02/05/2016)