Estudo do Google revela aumento de buscas por temas relacionados à diversidade

21 de outubro, 2017

Termos como feminismo, racismo e causa LGBT estão entre as pesquisas

(O Globo, 21/10/2017 – acesse no site de origem)

Assuntos ligados à diversidade sexual, racial, de gênero e religiosa nunca foram tão procurados pelos brasileiros na internet. A conclusão é de um estudo divulgado pelo Google BrandLab, que analisou pesquisas feitas no buscador e no YouTube, plataforma de vídeo que pertence à empresa de tecnologia.

Embora tais temáticas já estivessem em pauta há algum tempo na rede, os dados divulgados pelo Google demonstram elevações consideráveis em 2017, mesmo sem o ano ter chegado ao fim. As buscas nos primeiros cinco meses de 2017 por feminismo no Google, por exemplo, já acumulam o dobro de volume do que no ano de 2012 como um todo. Ainda em relação a 2012, a procura pelo termo “empoderamento feminino” foi quatro vezes menor em relação a este ano. Além disso, a busca pela expressão “igualdade de gênero” subiu 50% entre agosto de 2016 e este mesmo mês em 2017.

— O que vemos em 2017 é o feminismo alcançando volumes de busca equivalentes ao do racismo, que historicamente é o tema mais discutido no Brasil quando se fala em diversidade — observa Amanda Sadi, gerente de Insights do Google BrandLab São Paulo.

Isso não quer dizer, no entanto, que um assunto esteja ocupando o espaço de outro. Ao contrário, nas buscas relacionadas aos direitos das mulheres, um termo em ascendência é “feminismo negro”, corrente que intercala pautas ligadas à igualdade de gênero com a questão racial. De agosto do ano passado para agosto deste ano, a procura no Google pelo assunto subiu 65%, embora o número em volume de buscas ainda continue baixo.

NOVOS TERMOS EM DESTAQUE

Da mesma forma, outra pesquisa com tendência de alta para 2018 é “racismo estrutural”, termo utilizado para tratar desta discriminação que surge incorporada ao funcionamento das instituições, em oposição a casos individuais de racismo. Para Amanda, os dados apontam um amadurecimento e complexificação do debate sobre diversidade.

— São temas que por muito tempo ficaram na academia ou eram discutidos apenas pela elite intelectual. Agora, eles estão ganhando força, saindo da teoria e chegando à ação — acredita a gerente.

Já quando se fala em buscas sobre assuntos ligados à comunidade LGBT, uma miríade de termos começa a se destacar apenas agora. De agosto de 2016 para o mesmo mês este ano, a busca pela palavra “transgênero” cresceu 123%. Já a expressão “cura gay” subiu 63% apenas em setembro, puxada pela decisão judicial que autorizou psicólogos a oferecerem tratamento de reorientação para homossexuais, na contramão do indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

— O que vemos no Google são pessoas procurando compreensão, ao invés de “haters”. Já no YouTube, é como se o assunto ganhasse vida e fosse aprofundado — avalia Amanda, que também encontrou na plataforma uma preocupação com a diversidade religiosa.

— Entre os youtubers, há o começo de um movimento que não fica na polarização e busca um discurso mais acolhedor. Existe uma movimentação para mostrar que é possível ser cristão e não ter um discurso fundamentalista.

PROCURA PODE TRAZER ERROS

Para a pesquisadora do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC- USP) Rosane Borges, o aumento das buscas é fruto do embate sobre esses assuntos nas redes sociais.

— As pessoas procuram se municiar de argumentos para participar dos debates. Como o Google é o oráculo da internet, ele acaba sendo a grande referência para que elas possam intervir no espaço digital — explica Rosane, que, apesar de considerar uma conquista dos movimentos sociais o aumento do interesse por tais tópicos, vê com cautela o impacto disso fora das redes.

— Não necessariamente essas buscas sinalizam uma era de ouro. Às vezes, pode ser um germe apenas para nutrir mais ignorância: se, por um lado, abre-se o acesso à informação de qualidade, por outro as pessoas também podem entrar em furadas. Muitas vezes, elas querem apenas validar a própria opinião — destaca.

Representante da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (Ilga), o ativista Beto de Jesus também percebe ambivalência na forma como os dados dialogam com o atual cenário das minorias no Brasil.

— As coisas estão misturadas: de um lado, a gente tem esse avanço. Do outro, o Brasil continua sendo o país que mais mata travesti — observa.

Luiza Barros

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