(Agência Brasil, 09/11/2015) A coordenadora do projeto de análise de conteúdo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Maria Helena Weber, apresentou hoje (9), ao Conselho de Comunicação Social do Senado (CCSS), o resultado do estudo comandado por ela na Universidade Federal do Rio Grande do Sul com estudantes de graduação e pós-graduação, além de professores, sobre o conteúdo da TV Brasil.
Com mais de mil páginas de relatório final, o estudo aponta, entre outras coisas, que a TV cumpre o papel de exibir uma programação de “qualidade”, vinculada à “promoção da cidadania e questões culturais e políticas no Brasil”, segundo a professora. “Existe uma diferença na programação da TV Brasil que é extremamente importante, como a discussão de assuntos relacionados à mídia e à comunicação”.
Além disso, a pesquisa mostrou que em 92% dos programas, o canal público dá espaço para as manifestações da sociedade, utilizando o cidadão como uma das fontes principais no debate proposto. “Esse cidadão vai aparecer em maioria em praticamente todo tipo de programação que nós analisamos. Sobre todos os temas abordados, de política, de saúde, de cultura, algum tipo de cidadão, alguma pessoa é ouvida para saber o que acha. Isso é uma coisa importante porque estabelece uma relação entre o conteúdo e a população que está assistindo”, afirmou.
Maria Helena destacou que o bom conteúdo da TV pública fica prejudicado pela falta de qualidade nas transmissões e outras falhas na programação. “Existem questões apontadas de ordem técnica que desqualificam a qualidade dessa programação. Essas questões técnicas envolvem desde de questões de cenário, até posturas, coisas relacionadas à produção, edição de imagem, de som, etc. Essa exigência de qualidade, à qual estamos acostumados ao olhar uma TV, ela poderia ser melhor aprimorada para valorizar esse conteúdo, que é privilegiado pela TV Brasil”, disse.
A apresentação do estudo também foi acompanhada pela presidenta do Conselho Curador da EBC, responsável pela gestão da TV Brasil, Ana Luiza Fleck Saibro, que ressaltou a importância desse tipo de análise para nortear o trabalho dos conselheiros da EBC.
“Desde o início da constituição do conselho, identificamos a necessidade de buscar na academia uma análise mais pormenorizada da programação, das questões do jornalismo. Fizemos uma primeira pesquisa sobre a programação infantil, depois sobre o jornalismo da Agência Brasil, depois das rádios da EBC, e agora, essa, que foi uma pesquisa mais extensa [sobre a TV Brasil]. É para embasar a posição dos conselheiros, porque não temos condição de fazer um monitoramento de tudo. Então, esse tipo de trabalho nos ajuda muito”, observou.
Ana disse que problemas observados pelos conselheiros e pelo estudo em relação à grade de programação da TV, que estava “sem coerência”, foram solucionados pela direção da empresa. “Há um mês atrás houve uma troca, uma reorganização na grade da programação. Constatamos que, realmente, o conselho estava certo nessa questão. A questão, também, de ter mais debates e a temática da comunicação. O conselho, que já que essa temática não está nos veículos comerciais, tem que estar na TV Brasil. E está [conforme apontado pelo estudo]”, afirmou.
Ana Fleck precisou explicar aos conselheiros do CCSS a diferença entre a comunicação pública e estatal – ressaltando que a primeira está voltada às necessidade e interesses do cidadão, enquanto a segunda faz a divulgação de atos do governo. Para ela, não está claro, ainda, para toda a sociedade, a diferença no papel dos veículos da EBC.
“Acho que não. Mas isso também tem a ver em como o nosso sistema de comunicação se formou no Brasil, sendo privado desde o começo. Nós só temos 8 anos de formação da EBC, então, é toda uma postura que precisa ser trabalhada, entendida e vivenciada para entender essa questão do público”, afirmou. Para ela, os veículos da EBC têm falhado em repassar esses conceitos ao público.
Na mesma reunião, o CCSS recebeu o diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel, que falou sobre diversos assuntos ligados à área, desde estímulo à produção cinematográfica e instalação de salas de cinema no país até a expansão da TV paga nos domicílios brasileiros.
Entre outras coisas, Rangel comemorou que tenham sido criados dois novos canais brasileiros pagos de programação infantil nos últimos anos. “Nós saímos de zero em 2006 para dois canais brasileiros de programação infantil. Gostaríamos que tivesse mais, mas consideramos que já foi um avanço importante”, afirmou.
Mariana Jungmann
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