(Brasil de Fato| 28/03/2021 | Por Clara Assunção)
Ainda hoje, a jornalista e escritora Vanessa Rodrigues se incomoda com a forma que o assassinato da auxiliar de serviços hospitalares, Claudia Silva Ferreira, 38 anos, foi noticiado pela mídia. Atingida por um tiro durante uma operação da Polícia Militar em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, Claudia foi jogada no camburão da PM, que a levaria para atendimento médico.
Porém, no trajeto até o hospital, a porta traseira do veículo se abriu e seu corpo tombou para fora do carro, ficando preso por uma parte de sua roupa no para-choque. O que fez com que ela fosse arrastada no asfalto da Estrada Intendente Magalhães por 350 metros.
Vítima da violência policial, a auxiliar, mãe de quatro filhos, mulher negra e periférica, até hoje, no entanto, – sete anos após o crime brutal completados neste mês de março –, tem toda a história da violência que sofreu reduzida nas manchetes da mídia “grande” como “morte de mulher arrastada”. Sem qualquer aprofundamento e dimensão da violência de gênero que está por trás dele.
O fato de Cláudia assim ter se tornado conhecida e nomeada “é muito emblemático sobre a maneira como essa narrativa jornalística foi misógina”, segundo Vanessa. “Um não sujeito, alguém que não tinha nome. Sempre me lembro da história dessa mulher assassinada de um jeito tão brutal e tão indigno, de ter tido o seu corpo arrastado na rua. Quer dizer, tratado como nada. E ter sido conhecida e famosa como ‘Cláudia, a mulher arrastada’, ou só ‘a mulher arrastada’”, lamenta.