(Folha de S.Paulo) “Trama das nove da Globo ignora questão racial com personagem mulherengo e bem-sucedido de Lázaro Ramos”, escreve o repórter Mauricio Stycer, crítico do Portal UOL.
“André Gurgel, um dos protagonistas de ‘Insensato Coração’, é um designer famoso. Bem-sucedido, é a principal estrela de um escritório de design e sofre assédio para prestar seus serviços para uma concorrente. Premiado e paparicado, é objeto da curiosidade da imprensa, aparece em capas de revistas e cultiva a fama de mulherengo. Em um único capítulo da novela, sem fazer esforço, apenas exalando seu charme, André Gurgel foi capaz de conquistar três mulheres.”
“Não bastassem todas as suas qualidades e talentos, ele ainda é negro. Vivido por Lázaro Ramos, o personagem não sofre qualquer preconceito ou discriminação por conta disso. Passados 15 capítulos, não houve uma única cena, um único personagem que mencionasse a questão racial na trama. André Gurgel, em resumo, é um fenômeno. Mais do que viver num país em que não há racismo, transita pelas mais altas esferas como se fosse invisível. Como em ‘A Roupa Nova do Rei’, não há ninguém ao redor do personagem com coragem de dizer que ele é negro.”
“Gilberto Braga e Ricardo Linhares usaram esse mesmo artifício com o casal gay de ‘Paraíso Tropical’ (2007). Como observou o colega Alcides Nogueira, ‘podia ser tanto um casal de gays quanto um casal de símios, porque não era nada’.
Ao tratarem como natural o que não é natural, os autores podem até ter a intenção de transmitir uma mensagem de cunho educativo: ‘Assim é que deveria ser, assim é que os negros deveriam ser vistos, assim é que os gays deveriam ser tratados’. Como na fábula de Hans Christian Andersen, porém, correm o risco de ser confrontados por alguma criança capaz de enxergar que ‘Insensato Coração’ se passa no país das maravilhas.”
Leia na íntegra: Na TV, negro vive no país das maravilhas, por Mauricio Stycer (Folha de S.Paulo – 06/02/2011)