Relatório preliminar do Projeto Global de Monitoramento de Mídia de 2010
Somente 24% das pessoas vistas, ouvidas ou a respeito de quem se lê nas notícias são mulheres. Essa é uma das principais revelações do Projeto Global de Monitoramento de Mídia de 2010 (2010 Global Media Monitoring Project – GMMP). O relatório preliminar foi divulgado em 2 de março de 2010, em um painel de discussões e debates, por ocasião da 54ª sessão da Comissão da ONU sobre a Condição da Mulher, em Nova York.
10 de novembro de 2009 foi um dia comum de trabalho para o pessoal das salas de notícias ao redor do mundo. Foi, contudo, um dia especial para grupos voluntários em 130 países em todo o mundo, que estavam debruçados sobre seus jornais de circulação nacional, atentamente ouvindo notícias no rádio e assistindo de perto à televisão local. Com lápis e códigos nas mãos, o objetivo era observar, analisar e documentar achados com relação a indicadores de gênero em notícias, para o Projeto Global de Monitoramento de Mídia – a maior pesquisa e iniciativa mundial de gênero na mídia noticiosa. O propósito do projeto é fazer surgir uma representação de gênero justa e equilibrada na mídia noticiosa.
Os resultados contidos no relatório são preliminares, baseados em uma amostragem de 42 países na África, Ásia, América Latina, no Caribe, nas Ilhas do Pacífico e na Europa. Os resultados incluem 6.902 itens de notícias e 14.044 tópicos de notícias, incluindo pessoas entrevistadas nas notícias.
Edouard Adzotsa, Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas da África Central e Coordenador do GMMP no Congo Brazzaville, observou, durante o monitoramento naquele dia, que “a mídia noticiosa parece servir a interesses masculinos; a atenção às mulheres é extremamente negligente, apesar de as mulheres estarem em maior número, nacionalmente; as mulheres são a vida das comunidades, particularmente em assentamentos informais e em áreas rurais.”
Dentre os principais resultados estão:
– 24% das pessoas entrevistadas, ouvidas, vistas ou a respeito de quem se lê em transmissões principais e notícias impressas são mulheres; somente 16% de todas as matérias concentram-se especificamente em mulheres.
– As mulheres quase atingiram a igualdade, ao fornecer opinião em matérias. Entretanto, menos de um dentre cinco especialistas entrevistados é mulher, e homens predominam fortemente como testemunhas e relatores de experiências pessoais em matérias.
– Quase metade (48%) de todas as matérias reforça estereótipos de gênero, enquanto 8% das matérias questionam estereótipos de gênero. As mulheres em noticiários são identificadas por seus relacionamentos familiares (esposa, mãe, filha), cinco vezes mais que os homens.
– Em geral, há bem menos matérias apresentadas por repórteres femininas, do que por repórteres masculinos. Matérias apresentadas por repórteres femininas têm consideravelmente mais focos em temas femininos, do que as matérias apresentadas por repórteres masculinos, e questionam estereótipos de gênero quase duas vezes mais do que matérias de repórteres masculinos.
– O estudo revela, em geral, que as mulheres permanecem extremamente sub-representadas na cobertura de notícias, em comparação com os homens, resultando em notícias que retratam um mundo em que as mulheres são altamente ausentes. A pesquisa também mostra a escassez de visões e opiniões de mulheres, em comparação com perspectivas masculinas, nos principais noticiários.
Abebech Wolde, da Associação Etíope de Mulheres da Mídia e Coordenadora da GMMP, na Etiópia, disse: “Esperamos que nosso estudo a respeito da representação de gênero na mídia seja levado a sério por quem tem o poder nesses veículos.”
Uma comparação com os resultados das três últimas edições do GMMP, realizadas a cada cinco anos desde 1995, mostra sinais de mudanças em direção a notícias equilibradas e sensíveis no tocante a gênero. Matérias com temas femininos aumentaram de 17% para 24%, nos últimos 15 anos. A opinião popular em notícias agora chegou quase à igualdade, se comparado com 2005, quando em 66%, a opinião popular era majoritariamente prestada por homens.
Aidan White, Secretário Geral da Federação Internacional de Jornalistas (International Federation of Journalists – IFJ), declarou, na publicação do IFJ denominada “Alcançando o Equilíbrio: Igualdade de Gênero no Jornalismo” (“Getting the Balance Right: Gender Equality in Journalism”), que “um retrato de gênero justo é uma aspiração profissional e ética, similar ao respeito por precisão, justiça e honestidade”.
O Projeto Global de Monitoramento de Mídia é coordenado pela Associação Mundial para a Comunicação Cristã (World Association for Christian Communication – WACC), uma ONG internacional com escritórios no Canadá e no Reino Unido, que promove comunicação em prol de mudanças sociais, em colaboração com o analista de dados Media Monitoring Africa, da África do Sul. A Gender Links, também sediada na África do Sul, forneceu assessoria para o aprimoramento das ferramentas de monitoramento e da metodologia. Os voluntários que participaram do dia do monitoramento incluem ativistas das áreas de gênero e mídia, grupos de comunicação de base, pesquisadores/as universitários/as e estudantes de comunicação, profissionais de mídia, associações de jornalistas, redes de mídia alternativas e grupos religiosos. O projeto é apoiado pelo Unifem – Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher.
O relatório preliminar está disponível em inglês em http://www.whomakesthenews.org/
Sumários executivos estão disponíveis em inglês, francês e espanhol. Relatórios globais, regionais e nacionais finais serão publicados em setembro de 2010.
Para maiores informações, contate: [email protected]
No Brasil, a coordenação ficou a cargo de Sandra Duarte de Souza (Universidade Metodista) e Vera Vieira (Rede Mulher de Educação e Associação Mulheres pela Paz). Em breve, será divulgado um artigo específico sobre o relatório brasileiro, que não foge aos resultados mundiais.
Fonte: WACC – World Association for Christian Communication
Tradução: Luana Yoko Vieira Komatsu
Indicação de fonte:
Vera Vieira – jornalista e diretora do Instituto Patrícia Galvão e da Rede Mulher de Educação
Instituto Patrícia Galvão
São Paulo/SP
Tel.:
Fala sobre: direitos das mulheres; políticas de comunicação; educação e gênero; comunicação e gênero