(Agência Patrícia Galvão) Racismo e sexismo na mídia: uma questão ainda em pauta
Rio de Janeiro, 29 de novembro a 1º de dezembro de 2011
29 de novembro: COMEÇA O SEMINÁRIO A MULHER E A MÍDIA 8
Assista ao vídeo desta mesa na íntegra
Provisoriamente, os vídeos contendo os registros do Seminário A Mulher e Mídia 8 estarão disponíveis somente em baixa resolução e sem edição.
Mesa de abertura: Racismo e sexismo na mídia: uma questão ainda em pauta
Jacira Vieira de Melo (diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão)
Luiza Bairros (ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial)
Tatau Godinho (subsecretária de Planejamento e Gestão da Secretaria de Políticas para as Mulheres)
Nilcéa Freire (representante da Fundação Ford no Brasil)
Maya L. Harris (vice-presidente da Fundação Ford para o Programa de Democracia, Direitos e Justiça)
Alexandre Themé (representante da área de responsabilidade social do BNDES)
Reportagem de Neide Diniz e Beth Brusco
Fotos de Fabiana Karine
Abrindo o Seminário A Mulher e a Mídia, a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Vieira de Melo, falou com emoção sobre a trajetória de oito anos desse evento, que se tornou uma referência quando se trata do debate sobre a mídia brasileira e os direitos das mulheres. Em sua fala, Jacira reafirmou o compromisso do Instituto com o combate ao racismo e ao sexismo e disse que “no Ano Internacional dos Afrodescendentes, discutir racismo e sexismo é um desafio ainda maior que decidimos enfrentar”.
Jacira Melo destacou que estes temas sempre compuseram a pauta do Seminário, em sua inter-relação com a mídia e os direito das mulheres, mas“o diferencial é que este ano estes assuntos são o cerne do debate”. Além disso, a diretora do Instituto Patrícia Galvão admitiu em sua fala não ser nada fácil dar continuidade a um evento que propõe mudanças de pensamento e comportamento da sociedade, do governo e da mídia.
Para Tatau Godinho, subsecretária de Planejamento e Gestão da Secretaria de Políticas para as Mulheres, “o racismo e sexismo não estão fora de moda, eles se manifestam todos os dias”. Ns avaliação de Tatau, “esta discussão é um desafio muito difícil também para quem está no governo, por dois motivos: pela herança histórica excludente e pela dificuldade de as pessoas envolvidas perceberem que é preciso debater com a sociedade os conteúdos da mídia e ampliar o grau de democracia”.
E a subsecretária faz uma ressalva sobre o que alguns consideram democracia: “quando se trata de televisão, dizem que você tem o direito de desligar ou mudar de canal. Iisso não é direito, é ausência de direitos”. E explica “quando você desliga a TV, você nega o acesso à informação, mas não impede a difusão de conceitos que apenas reforçam estereótipos”.
Logo em seguida, Alexandre Themé, representante do BNDES, afirmou que a sensibilização para as questões de gênero e raça exige um esforço ainda maior no campo do trabalho, pois “significa uma mudança de valores hierarquizados e consolidados”. Alexandre revelou que, de posse de novas referências, o Grupo de Gênero e Valores do BNDES pode ajudar o Banco a perceber algumas inequidades. Um exemplo é o cadastro de raça, cor e gênero, que possibilitou um mapeamento mais preciso do perfil dos trabalhadores da empresa. “Esta ação trouxe à tona uma realidade que estava camuflada na empresa; isto proporciona o desenvolvimento de estratégias para contemplar todos os segmentos da sociedade”, pontua Alexandre.
Na sequência Nilcéa Freire, representante da Fundação Ford, fez um breve passeio por sua memória e recuperou a história do seminário, e destacou duas qualidades: continuidade e persistência. “O Brasil não tinha uma história de continuidade, cada governo que chegava desfazia as coisas”, comparou. “Estamos juntas persistindo que o nosso país só será democrático se mulheres, homens, negros e homossexuais estiverem efetivamente representados em todas as esferas de poder do país”, Nilcéa finalizou.
Já Maya Harris, vice-presidente da Fundação Ford para o Programa de Democracia, Direitos e Justiça, ressaltou a importância de uma mídia diversificada e inclusiva, valores centrais na Fundação Ford. Ao concluir revelou grandes expectativas sobre as consequências positivas que estes debates vão desenhar no futuro.
E para finalizar a primeira mesa do Seminário, a ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, salientou que “existe diferença entre promover igualdade racial e combater o racismo, assim como existe diferença entre políticas públicas para as mulheres e combate ao sexismo”.
Na avaliação da ministra Luiza Bairros, a discussão do papel da mídia aparece muito naturalmente neste debate. “Esta questão é vigente e entre os objetivos é fundamental rever o conceito de imagem que sustenta o extermínio físico e cultural da população negra”, enfatizou. E, citando um anúncio que vinculou a mulher a uma mercadoria, afirmou: “aquela imagem maculava a essência de todas nós mulheres, mulheres brancas e negras; situações como estas servem para enriquecer o debate e provam que ainda temos muitos que caminhar”.
Lena Frias: homenagem a uma grande jornalista negra
Emoção no primeiro dia da 8ª edição do Seminário. Painéis repletos de textos e fotos que contam a trajetória da jornalista e historiadora Lena Frias foram afixados na antessala do auditório do BNDES, no Rio de Janeiro, onde aconteceu o encontro. Além da exibição de um vídeo produzido por Guilherme Sarmento e Schuma Schumaher, a rapper Refém leu com muita força e emoção um texto escrito especialmente para a homenagem.
O único filho da jornalista e pesquisadora, Pedro James Frias Hemsley, recebe das mãos da ministra Luiza Bairros (Seppir) e de Nilcéa Freire (Fundação Ford) uma placa em homenagem à mãe por tudo o que ela representou para a cultura afrobrasileira.
Lançamento do Baobá – Fundo para Equidade Racial
O diretor executivo do Fundo, Athayde Motta, explicou a finalidade do Baobá, que é mobilizar recursos, no Brasil e no exterior, para financiar projetos com foco exclusivo na equidade racial.
“Nós temos que ser conhecidos para arrecadar recursos e nós temos que vencer uma mídia que não fala da gente, frequentemente, e quando fala não fala bem”, afirmou Athayde.
Para isso, o diretor do Baobá contou como foi a estratégia de divulgação do Fundo na mídia, que incluiu desde a inserção bem-sucedida de notas em colunas de negócios até a parceria com o cineasta negro Joelzito Araújo, que ofereceu a bilheteria do documentário “Raça”, que mostra a luta de três líderes brasileiros pela igualdade racial.
A 8ª edição do Seminário Nacional A Mulher e a Mídia é uma realização do Instituto Patrícia Galvão, das secretarias de Políticas para as Mulheres (SPM) e de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), da Fundação Ford e ONU Mulheres, e conta com o apoio do BNDES.
Saiba mais sobre as apresentações e debates acessando os links para a cobertura das mesas
30/11 – Mesa 1 – Há uma cultura de negação do racismo e do sexismo na imprensa?
30/11 – Mesa 2 – Regulação democrática, direito à igualdade e respeito à diversidade de gênero e raça
1º/12 – Mesa 3 – Raça e gênero na publicidade: onde estão os limites éticos?
1º/12 – Mesa 4 – Racismo: a imprensa nega, a TV prega?
Cento e quarenta participantes de 25 estados foram selecionadas, por critérios previamente definidos e amplamente divulgados, dentre as mais de quinhentas inscrições. São representantes dos movimentos de mulheres e de mulheres negras, e ainda jornalistas, gestoras de programas, pesquisadores, estudantes, dentre tantos outros representantes de instituições organizadas que foram ao Rio de Janeiro participar desse debate.
Realização: Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos, Secretaria de Políticas para as Mulheres, Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial, Fundação Ford e ONU Mulheres
Apoio: BNDES
Mais informações: [email protected] – (11) 2594.7399