(O Estado de S. Paulo, 04/05/2015) Mais da metade dos brasileiros acima de 10 anos de idade ainda não tem acesso à internet. O crescimento da rede no País tem sido considerável nos últimos tempos, conforme mostra nova pesquisa do IBGE, mas os resultados indicam que ainda é muito longo o caminho a percorrer para que a maior parte do Brasil esteja conectada – especialmente porque o mesmo levantamento concluiu que o ritmo de expansão vem apresentando desaceleração.
O suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013 sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação mostra que 50,6% da população com mais de 10 anos não navegou na internet nenhuma vez nos 90 dias anteriores à entrevista.
Em 2005, apenas 20,9% dos brasileiros acima de 10 anos acessaram a internet por meio de um computador. Em 2008, já eram 34,8%. Em 2011, chegaram a 46,5%, mas dois anos depois o número caiu para 45,3%. Considerando-se os usuários de internet móvel, o porcentual sobe para 49,4%. Observa-se, portanto, que o uso da internet no Brasil teve um forte impulso entre 2005 e 2011, mas atingiu um ponto em que o crescimento depende agora da melhoria de vida dos brasileiros mais pobres.
“Ainda há muito o que melhorar, desenvolver”, comentou Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad. A pesquisadora salientou que é preciso atentar para fatores regionais e econômicos. “Sabemos que a renda afeta. Pelo celular, muita gente acessa, mas tablets e computadores são bens mais caros”, ponderou Maria Lucia.
Ademais, o custo do acesso à internet no Brasil está entre os mais altos do mundo, conforme apontaram diversas pesquisas nos últimos anos. Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas que relaciona o preço da internet com a renda per capita, por exemplo, mostra que o brasileiro tem de trabalhar 5,01 horas por mês para pagar uma conexão de 1 Mbps. No Japão, trabalha-se menos de um minuto para o mesmo fim. Um dos motivos da diferença é que a banda larga no Brasil paga 40% de imposto, enquanto no Japão essa carga é de 5%. Outro estudo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que o preço médio da banda larga no Brasil é mais de 20 vezes superior ao cobrado nos Estados Unidos.
Formalmente, o estudo do IBGE não cita nenhum motivo, em particular, para que a expansão do número de usuários de internet no Brasil tenha desacelerado, mas a pesquisadora Maria Lucia sugere que a questão do preço seja essencial. Para ela, cabe às operadoras “descobrir por que essas pessoas não acessam”. Além disso, ela diz que é preciso haver “políticas públicas que estimulem a inclusão digital”.
Qualquer que seja a providência a ser tomada, trata-se de uma questão urgente. Embora o Brasil esteja entre as dez maiores economias do mundo, o País, em termos de acesso à internet, aparece atrás de seus vizinhos nas Américas e somente à frente de alguns países do Oriente Médio e da África. Os técnicos do IBGE consideram, portanto, que há bastante espaço para crescer.
O problema é que a expansão, daqui em diante, não será mais tão formidável como no passado, com saltos de mais de 10 pontos porcentuais de um ano para outro. Os obstáculos são, basicamente, a baixa renda e a baixa escolaridade.
Segundo a pesquisa, a utilização da internet é mais intensa entre os jovens de 15 a 17 anos (75,7%) e cresce segundo a escolaridade – acessaram a internet 5,4% da população sem instrução ou com até um ano de estudo e 89,8% das pessoas com 15 anos ou mais de estudo. Além disso, a proporção de usuários cresce conforme a renda – ultrapassa 50% a partir da classe de um a dois salários mínimos.
O acesso à internet via banda larga móvel, visto como o futuro da web por ser mais barato e prático, está presente em 43,5% dos domicílios, segundo o IBGE. O crescimento da população com celular no Brasil, da ordem de 131,4% entre 2005 e 2013, sugere que esse deverá se tornar o meio mais popular de navegação na internet no País, em todas as faixas etárias e condições sociais. No entanto, quase 25% dos brasileiros ainda não dispõem de telefone celular.
Acesse o PDF: O desafio da inclusão digital, editorial do jornal O Estado de S. Paulo (O Estado de S. Paulo, 04/05/2015)