Após denúncias de violência sexual em Hollywood, atrizes anunciam protesto e criação de fundo contra abuso na indústria do entretenimento
(CartaCapital, 07/01/2018 – acesse no site de origem)
Caso se confirmem as previsões, o preto será a cor de escolha de muitas atrizes na premiação do Globo de Ouro (Golden Globe Awards), que reverencia as melhores produções para o cinema e a televisão realizadas no ano anterior. A cerimônia acontece na noite deste domingo 7 em Los Angeles, na Califórnia.
A escolha não é apenas um modismo: atrizes como Meryl Streep, Jessica Chastain e Emma Stone usarão o preto no tapete vermelho para lembrar da onda de denúncias de assédios e violência sexual que varreu Hollywood em 2017, alçando ao mundo a hastag #Metoo como forma de expor a naturalização extrema desses episódios no mundo das celebridades do cinema.
A queda do todo-poderoso produtor Harvey Weinstein foi talvez o exemplo mais chocante do tratamento dado por Hollywood a suas atrizes, cuja denúncia partiu inicialmente de uma reportagem do The New York Times, assinada por Jodi Kantor e Megan Twohey, posteriormente confirmada por dezenas de mulheres.
Um levantamento feito pela atriz e cineasta Asia Argento mostrou que ao menos 82 mulheres – entre elas Salma Heyek, Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie – vieram a público denunciar o comportamento do produtor até outubro de 2017. As histórias, que teriam ocorrido entre 1980 e 2015, incluíam 18 acusações de estupro.
Weinstein acumulava, até 2017, 300 indicações ao prêmio da Academia. Segundo levantamento do site Quartz, as menções a ele nos discursos de agradecimento no Oscar só perdem para Steven Spielberg e empatam com Deus.
“Aos olhos dele, eu não era artista. Não era nem mesmo uma pessoa. Era uma coisa –não era ninguém, mas era só um corpo”, escreveu Hayek sobre a sua experiência com o produtor no set da cinebiografia Frida.
Após Weinstein, a casa caiu. Outros bastiões, como Kevin Spacey viram a carreira acabar em apenas 72 horas, ao passar de um dos atores mais respeitados de sua geração para o fim sumário de sua participação na série House of Cards após uma denúncia de abuso do também ator Anthony Rapp, quando o último tinha apenas 14 anos.
Mais recentemente, a produção da série da BBC Ordeal by Innocence anunciou que refilmará diversas cenas como consequência da exclusão de Ed Westick do elenco, após três acusações de estupro.
Após o tsunami, cerca de 300 mulheres envolvidas com a indústria do entretenimento anunciaram a criação da iniciativa Time’s Up, cujo objetivo declarado é enfrentar o assédio generalizado no setor. O projeto, que inclui atrizes como Reese Witherspoon e Cate Blanchett, pretende criar um fundo (que já soma R$44,6 milhões) com o objetivo de subsidiar a defesa legal a mulheres (e homens) assediadas ou abusadas no local de trabalho.
Tory Oliveira