04/08/2013 – Primeiro prefeito gay quebra tabus no México rural

04 de agosto, 2013

(O Globo) Fresnillo é o município mais importante do estado de Zacatecas, no centro do México. De clima seco, a região é conhecida pela atividade mineradora e a tradição rural. Na cidade de 230 mil habitantes, os homens circulam com chapéus e botas de couro. A violência aumentou nos últimos anos, com a disputa entre o cartel do Golfo e os Zetas pelo comando do tráfico de drogas local. Mas, desde as eleições municipais, em julho, Fresnillo chama a atenção do país por um nome: Benjamín Medrano, empresário e político de 47 anos que transformou-se no primeiro prefeito abertamente gay no México.

A eleição surpreendeu numa nação tradicionalmente católica e de cultura machista. E mais pelo município em que Medrano foi eleito, onde isso seria aparentemente menos provável do que em metrópoles mais progressistas como a Cidade do México — em que o casamento gay foi legalizado há quatro anos.

Preconceito na campanha
Medrano não busca explicações. Diz que conseguiu 42.147 votos — contra quase 38 mil de Saúl Monreal, do Partido do Trabalho, e cuja família detinha o poder local há 15 anos — com uma campanha limpa, sem esconder sua orientação sexual, embora tampouco amparada somente na bandeira gay.

– Não esperava essa repercussão. É uma conquista não só por minha orientação sexual, mas pela oportunidade de transformar o município. De que se respeitem formas diferentes de pensar. Não quer dizer que vou abrir dezenas de bares gays, nem me vestir de mulher e colocar cílios postiços, como espalharam meus oponentes. Minha eleição abre um precedente. É uma responsabilidade – admite.

Medrano não é novato na política. Advogado, foi síndico da cidade (cargo mais importante depois do prefeito), prefeito interino, deputado. Entrou neste mundo há 20 anos, animado pela experiência à frente do sindicato estatal de músicos de Zacatecas. A fama conquistada no campo artístico, acredita, ajudou-o a despertar simpatia e conquistar votos. Tem cinco CDs lançados, de baladas e ranchera, estilo tradicional de regiões rurais. Ficou conhecido em apresentações em feiras e festivais pelo México e os Estados Unidos. Já gravou um sexto CD, à espera de lançamento. Além disso, é dono de dois bares gays, em Fresnillo e na cidade de Zacatecas. Atividades que deixará em segundo plano, ao menos por enquanto, jogado na berlinda pelo ineditismo de sua eleição para prefeito.

– Sem dúvida é um feito histórico. Até então os gays que chegaram a um cargo público foram por votação plurinominal, do partido, e não por eleição popular. Em 2009, houve um candidato abertamente gay a prefeito em Guadalajara, mas ele terminou em quarto lugar – conta o analista político Genaro Lozano.

O especialista do Instituto Tecnológico Autônomo do México (Itam) destaca, porém, que Medrano ainda terá de provar a importância de sua vitória para o movimento gay. Ele recorda que, nas primeiras declarações à imprensa, o prefeito eleito disse ser contra causas históricas do ativismo gay, como o casamento.

– Ele disse que a população não estava pronta, mas uma pesquisa do Conselho Nacional de Prevenção da Discriminação aponta que a aceitação da homossexualidade em Zacatecas é uma das mais altas do país. Há uma expectativa de que ele não se limite a ser apenas o primeiro prefeito gay do México, mas também defenda seus direitos – observa Lozano.

Medrano rebate que não é contra o casamento gay. Solteiro, diz que apoia a causa, mas que só se casaria se a união fosse legal em sua cidade – o que depende dos legisladores, ressalta -, “para não afrontar a população tradicionalmente arraigada ao catolicismo” em Fresnillo. Sua orientação sexual, lembra, foi explorada pelos rivais contra sua campanha:

– Não podiam me acusar de ladrão, nem de conivência com o narcotráfico. Então atacaram minha orientação sexual. Andavam com carros de som gritando que eu tinha abusado de crianças. Diziam que gay não podia governar, que essa era terra de homens.

Apesar do preconceito, Medrano assume que sua agenda não está concentrada, a princípio, no movimento gay. Se, por um lado, isso pode ter ajudado a aumentar sua aceitação entre os eleitores conservadores, ele explica que Fresnillo tem necessidades mais urgentes.

– Os gays não são a população mais vulnerável da cidade. Somos produtivos, temos negócios. Vivo num povoado pobre, com 50 mil mães solteiras, com jovens que são atraídos pelo narcotráfico. São eles que atenderei primeiro – diz.

Dia da independência
Uma das prioridades, explica, será apoiar a implantação do comando único da polícia, projeto que busca unificar as polícias do México para combater a corrupção que contamina as forças municipais. Para isso, aposta na parceria com os governos estatal e federal, comandados, como será em Fresnillo, pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI).

– Nunca escondi ser gay. Mostrarei a cara sempre. Não é o chapéu que torna o homem mais macho. Macho é quem usa a inteligência para ser um homem melhor. Tomarei posse no dia mais importante do México, 15 de setembro, o dia da independência. Será o meu dia – afirma.

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