12/02/2013 – Cinco questões que aguardam o sucessor de Bento XVI

12 de fevereiro, 2013

(O Globo) Cinco questões que aguardam o sucessor de Bento XVI
USO DA CAMISINHA
Em uma ruptura com seu pensamento geralmente conservador, o Papa Bento XVI disse, durante uma longa entrevista ao jornalista alemão Peter Seewald, em novembro de 2010, que o uso de camisinhas era aceitável em “certos casos”.

“Se for um prostituto, usando um preservativo para reduzir o risco de infecção por HIV, esse pode ser um primeiro passo no sentido da moralização, um primeiro ato de responsabilidade, no caminho para a recuperação de uma consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer o que se quer”, disse o Papa.

O Pontífice, porém, não fez menção ao controle de natalidade nem ao uso de preservativos em relações heterossexuais. O próprio Vaticano afirmou, mais tarde, que as declarações do Papa não representavam uma mudança na visão da Igreja sobre o assunto e que, de forma alguma, Bento XVI estava estimulando um comportamento “amoral”, mas considerando que o uso de preservativos para reduzir o risco de infecção é um “primeiro passo na estrada para uma sexualidade mais humana”.

Antes disso, em 2009, o Papa levantou polêmica ao dizer que a maré crescente de HIV na África poderia ser ainda maior com a distribuição de preservativos. A afirmação foi feita na presença de jornalistas, durante a primeira visita de Bento XVI à África, continente com o maior número de mortes por Aids. Caberá ao seu sucessor decidir se essa continuará sendo a posição da Igreja.

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ABUSO SEXUAL DENTRO DA IGREJA
O Pontificado de Bento XVI foi abalado, em 2010, por terríveis casos de pedofilia e abuso sexual envolvendo padres das igrejas de Irlanda, Alemanha, Áustria, Bélgica e Estados Unidos. O escândalo respingou no Papa, que chegou a ser acusado de ter encoberto padres pedófilos durante seu período como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.

Após classificar os escândalos como “fofocas mesquinhas”, Joseph Ratzinger acabou por reconhecer que sente “vergonha” da Igreja pelos “crimes abomináveis​​” cometidos por padres pedófilos. O líder religioso também pediu desculpas às vítimas.

Em maio do ano passado, o Vaticano revelou que estava investigando denúncias de abuso sexual a menores relacionadas a sete sacerdotes da congregação Legionários de Cristo. Bento XVI foi forçado a demitir vários bispos e ainda ordenou a limpeza dos Legionários de Cristo, depois de confirmar que seu fundador, o padre mexicano Marcial Maciel, falecido em 2008, abusou sexualmente de seminaristas e teve filhos com diversas mulheres.

Muitos críticos da Igreja Católica, porém, apontaram que o Vaticano seria muito lento e muito sigiloso na hora de reconhecer e investigar o abuso sexual.

HOMOSSEXUALIDADE
No início de seu Pontificado, Bento XVI condenou a violência física e verbal contra os gays, acrescentando que tais atitudes deveriam ser condenadas pelos pastores das igrejas locais, em aparente sinal de renovação do pensamento religioso. À ocasião, o Papa fez questão de ressaltar que a condenação de atos de agressão não mudariam a opinião da Igreja quanto ao casamento gay ou a homossexualidade.

Em dezembro de 2012, o Vaticano insistiu que as crianças devem ser criadas por um pai e uma mãe, após a Suprema Corte italiana ter entregado a custódia de uma criança à mãe, que é homossexual. Em sua mensagem de Natal, o Papa ainda reforçou que atitudes modernas em relação à sexualidade e manobras para promover o casamento homossexual constituem um ataque “à verdadeira estrutura da família, composta por pai, mãe e filho”.

ABORTO
A posição anti-aborto do Vaticano foi reforçada durante o Papado de Bento XVI. Um dos sinais foi dado em 2010, quando o Pontífice nomeou o cardeal canadense Marc Ouellet, conhecido por sua posição firme contra o aborto, como chefe da Congregação para os Bispos. A posição é considerada o terceiro cargo mais importante do Vaticano, já que seu titular é responsável pela elaboração de listas de futuros bispos. O cardeal Marc Ouellet, que, hoje, é um dos candidatos favoritos a suceder Ratzinger, considera o aborto como “um crime moral”, inclusive em casos de estupro.

O LUGAR DA MULHER NA IGREJA
O Papa abordou a questão do lugar da mulher na Igreja durante um discurso em Roma, em 2007, dizendo: “Jesus escolheu 12 homens como pais da nova Israel, para estar com Ele e para disseminar a mensagem, mas entre os discípulos, muitas mulheres também foram escolhidas. Elas desempenharam um papel ativo na missão de Jesus.”

Porém, em abril do ano passado, Bento XVI reprimiu os “católicos desobedientes” que desafiam a doutrina da Igreja na ordenação de mulheres ou na questão do celibato sacerdotal.

“É desobediência um caminho de renovação para a Igreja?” , perguntou retoricamente o Papa, durante um sermão na Praça de São Pedro, no dia em que padres ao redor do mundo renovavam seus votos.

Ele salientou que a proibição de ordenar mulheres era “definitiva” e que o embargo fazia parte da “constituição divina” da Igreja.

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