(O Globo) Na página de Opinião do Globo, o jornalista Gilberto Scofield Jr. critica o debate sobre a união civil e o casamento de homossexuais no Brasil, uma discussão em que o articulista aponta “um mar de equívocos, má vontade e manipulações de todo o tipo que não resistem a um olhar laico, qualidade que, aliás, deveria estar no topo das prioridades de qualquer campanha eleitoral”.
“Que me desculpem os religiosos, mas graças a Deus (sem trocadilhos) temos uma Constituição. E ela não diz isso. Está lá na Carta Magna, no primeiro parágrafo de seu artigo 226 — reproduzido no artigo 1.512 do Código Civil: ‘O casamento é civil e gratuita a sua celebração.’ Aliás, o casamento civil foi criado justamente para acabar com a exclusividade das religiões sobre as uniões afetivas, fortalecendo o papel do Estado. Essa distinção entre o rito religioso do matrimônio e o que diz a lei não pode ser desprezada na discussão sobre uma luta por direitos civis que vem sendo travestida por grupos religiosos como um ‘capricho de sodomitas que querem entrar de véu e grinalda na igreja’ (como eu já ouvi)”, escreve o jornalista.
“Porque em momento algum a comunidade LGBT reivindicou que qualquer igreja seja obrigada a celebrar o rito religioso do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. A briga é por igualdade de direitos civis. E se a Constituição, em seu artigo 5º, afirma que todos são iguais perante a lei, não faz sentido termos um casamento civil para casais heterossexuais e outro para casais do mesmo sexo. Porque eu amo da mesma forma, pago os mesmos impostos e tenho os mesmos deveres de qualquer cidadão. Mas tenho que ir à Justiça se quiser declarar renda familiar com meu companheiro ou mesmo ficar com ele no leito de uma UTI”, que lembra que isso ocorre em um país “onde 17,4% das famílias são chefiadas por mulheres sem maridos, fenômeno diretamente proporcional ao aumento de divórcios e separações. A isso se dá o nome de hipocrisia.”
Leia na íntegra: Briga por igualdade de direitos, por Gilberto Scofield Jr. (O Globo – 19/10/2010)