(Adital) No próximo dia 1º, a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) participará de sessão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em Washington, D.C, nos Estados Unidos. Durante a audiência temática, agendada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), as integrantes da AMNB irão denunciar o Estado brasileiro pela falta de políticas públicas voltadas para as mulheres negras.
Nas palavras de Simone Cruz, secretária executiva da Articulação, o momento é importante por ser uma possibilidade de colocar as demandas destas mulheres.
“A relevância desta audiência é a visibilidade para a situação real das mulheres negras, que representam 49% das brasileiras e estão sub-representadas ou não representadas em diversos âmbitos. Queremos levar essa audiência num tom de denúncia, mas também queremos chegar com uma proposta de diálogo com o governo, pois acreditamos que o fim da desigualdade só poderá acontecer a partir de ações e da implementação de políticas públicas criadas conjuntamente”, disse.
Durante a audiência temática, serão focados dois temas: a saúde das mulheres negras e o trabalho doméstico, temas que já foram levados para o Comitê da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Cedaw) e que poderão ser reforçados na ocasião.
Os temas foram escolhidos não por acaso. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 90% dos empregos domésticos são ocupados por mulheres, deste percentual mais 82% são mulheres negras. A secretária executiva acrescenta, com bases em dados da própria Articulação, que as negras são campeãs no exercício do trabalho doméstico sem ter seus direitos trabalhistas garantidos. Por este motivo, uma das recomendações é a garantia da seguridade social para as trabalhadoras.
No que diz respeito à saúde, a situação também é difícil para elas em virtude da falta de acesso a serviços essenciais. Simon Cruz afirma que as instituições de saúde no Brasil não estão sendo capazes de atender as mulheres negras.
“Elas são menos tocadas por médicos como ginecologistas e morrem mais por complicações no parto, gravidez e no puerpério. O que vemos é a impossibilidade de as instituições compreenderem as necessidades das mulheres e também sabemos que elas são atendidas diferentemente, configurando um racismo institucional”, assegura, apontando que entre as recomendações para esta área pedirão a qualificação dos profissionais que prestam atendimento.
Repassando alguns dados importantes, Simone apontou que no que diz respeito à mortalidade de mulheres negras e brancas na faixa dos 10 aos 29 anos, no caso de morte materna o índice entre mulheres negras é de 3,3% enquanto entre as brancas é de 1,6%. No caso das mortes por Aids, 2,2% eram negras e 1,4 brancas.
Simone afirma que com esta audiência esperam respostas concretas que possam acabar com as desigualdades a que as mulheres negras vêm sendo submetidas. “Se houver ações que deem conta do atendimento e acesso das mulheres negras, acredito que em um ano já poderemos ver resultados e respostas concretas”.
Além de secretária executiva da AMNB, também estarão presentes na audiência temática a presidente do Geledes – Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci, e o diretor de Programa para a America Latina da Global Rights, Carlos Quesada.